cotidiano

Eu queria que você ficasse.

Sempre achei que a minha vida era muito melhor quando você tava comigo. Os dias pareciam mais alegres, o céu mais azul, os pássaros cantavam mais e o ônibus lotado que eu pegava todo o dia para o trabalho nem parecia tão ruim assim.

A gente ria das coisas mais bestas. Aquele meme sem graça que aparecia na timeline do Facebook, as inúmeras vezes que eu batia o dedinho do pé na quina do sofá. A caneca engraçadinha que eu uso pra tomar chá todos os dias de manhã. O jeito estranho que você segura a escova de dentes.

Diário #62 - Eu queria que você ficasse

Eu achava que a gente era tipo duas metades de uma laranja que finalmente se encontraram. Tipo a tampa da frigideira, o outro pé da meia que some na máquina de lavar, a tampa da borrachinha da lapiseira.

Eu queria que você ficasse comigo. Todos os dias. Daqui até a eternidade, como diria Cazuza (e eu nem gosto de Cazuza, mas você gostava tanto que pareceu certo usar as palavras dele aqui). Eu acreditava que a gente seria daqueles casais que as pessoas usariam como exemplo na hora de falar de amor. ‘Aqueles dois sabem o que é amar de verdade’. Eu queria – muito – que isso fosse verdade.

Eu não sei dizer o que foi que deu errado. Em que momento o sentimento morreu. Mudou. Deixou de existir. Já aprendi que o amor não acaba nunca, então, vai ver a gente não se amava mesmo. Se o coração deixou de amar, provavelmente ele nunca soube o que era sentir esse tipo de coisa pra começo de conversa.

Eu não saberia dizer o que é mais triste: você ter ido embora ou a gente nunca ter aprendido a amar. Se pudesse pedir qualquer coisa agora, talvez pedisse isso: que o nosso amor tenha sido de verdade (mas muito provavelmente não foi).

Você deixou a sua cópia da chave na mesinha do lado da porta e decidiu não voltar mais. E os dias parecem mais cinzas, tristes, e eu não encontro mais tantos motivos para sorrir como antigamente. Ainda assim, eu sinto que entendi uma coisa: não vale a pena eu sentir saudade de você – e não deveria mesmo.

Sabe, você é livre. Livre pra fazer o que quiser e, infelizmente, nada do que eu diga ou faça vai mudar a liberdade que você tem de seguir a sua intuição. A verdade é que se você não está mais aqui comigo, é porque é isso que você quer e eu, no fim das coisas, só posso agradecer você por ser fiel ao que seu coração pediu pra você fazer.

Dói, sabe? Essa coisa da gente ficar longe, de eu não me sentir bem em mandar uma mensagem pra você de madrugada perguntando no que você tá pensando ou de querer desesperadamente que você volte a levantar todo desengonçado da cama pra esquentar água pro meu chá. Mas você é livre e eu sou também. Mesmo que seja só pra mandar aquele WhatsApp afobado perguntando se você tá bem.

Eu queria que você estivesse aqui, mas, ao mesmo tempo, eu não posso querer. Querer você comigo implica que você precisa deixar de ser livre e fazer o que eu quero, fazer do meu jeito, e me dá um aperto no peito só de pensar que você precisa atender aos meus caprichos por qualquer motivo que seja.

Eu não sei se eu viveria em paz assim. Sendo bem sincera, eu já saquei que nada é mais importante pra mim do que a sua felicidade e você só pode ser feliz reconhecido que é tão livre quanto eu. E se eu não soube te amar antes, que esse seja o gatilho que eu preciso pra te amar incondicionalmente, mesmo que você decida mudar pro Japão de uma hora pra outra.

Então eu aceito. Aceito te ter longe. Porque isso significa que você está seguindo o que acha que é melhor pra você e quem sou eu pra dizer que isso é errado? Quem sou eu pra dizer o que é melhor ou pior pra você? Eu aceito e tudo bem.

Não vou mentir e dizer que não haverá momentos em que tudo o que eu mais quero é ter você fazendo cafuné na minha cabeça de noite, enquanto a gente revê aquele episódio incrível de Sense8. Mas eu quero a sua felicidade, e talvez eu precise entender cada vez mais que pra isso acontecer a gente não vai ficar junto.

De qualquer maneira, e qualquer que seja a intenção, eu queria que você estivesse aqui, mas aceito que você precisa estar longe. E eu te amo. Amo sim. E não me importo mais que pra isso eu precise te deixar partir.

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Escrito pelaMaki
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4 Comentários
  1. Ellen  em novembro 03, 2016

    Acho que fui eu que escrevi esse texto 🙁 jesus amado! que texto, é a minha vida apenas 🙁 amei teu blog.

    • Maki  em novembro 06, 2016

      que bom que bom que você gostou, Ellen! fico muito feliz! <3

  2. Nicas  em agosto 01, 2016

    não tem vazio mais estranho que esse. a única coisa que posso dizer, de coração é que desejo mesmo que a dor passe, que o vazio suma e que aos poucos sua vida nova comece.

    Fica bem, vai melhorar.<3

    • Maki  em agosto 02, 2016

      trabalhamos pra isso, né? pra não sentir mais esse vazio doido e entender que não tem mesmo porque sentir saudades de alguém.
      obrigada ♥