inspiração

A música Try, da Colbie Caillat, é uma das minhas preferidas dos últimos tempos porque fala de um assunto que mexe muito comigo. Sabe quando você percebe, pela primeira vez na vida, que o corpo que você habita não te faz confortável? Você não se sente bem ali? Então… Claro que a música vai muito além disso e eu vou abordar o assunto um pouco mais para frente.

conforto-corpo

Essa semana eu assisti a entrevista que o Bruce Jenner deu para a Diane Sawyer falando sobre a sua mudança de gênero. Se especulava muito sobre o assunto (e os comentários maldosos eram nojentos), mas na entrevista ele colocou tudo às claras e explicou uma coisa que ficou comigo: ele sentia muita inveja das mulheres e dos homens que estavam bem no próprio corpo, que se sentiam bem com a pele que têm. E, para ele, aquela era uma ideia impossível, porque ele nasceu com o corpo errado.

Claro que a comparação é ínfima, mas quando ele falou isso, eu percebi que eu também me sentia assim. Nunca no mesmo grau claro, afinal, não tenho as mesmas questões que ele, mas a ponto de jamais prestar atenção no meu próprio corpo. Curiosamente (ou não tão curiosamente assim), falei muito sobre isso na terapia essa semana, sobre como eu me sinto desconectada do meu próprio corpo e como eu gostaria de mudar isso.

Comecei com as pequenas coisas. Prestar atenção na textura da pele quando eu passo o creme de manhã. Reparar nas minhas sardas quando me olho no espelho. Nos nuances de verde dos meus olhos. Nas partes do meu corpo que eu até gosto, como a minha boca e o formato das minhas mãos. Sentir o tecido da minha blusa preferida na pele. Como aquela calça que eu gosto me faz sentir bem.

Começa com coisas pequenas que se transferem para as maiores, como passar a prestar mais atenção no que eu como, porque eu quero me sentir bem e não ‘suja‘ que é como eu me sentia quando comia muita besteira em um curto espaço de tempo. Como sair de casa mais cedo para andar mais ou ir mais vezes a pé até o shopping só pelo prazer de andar e movimentar o corpo.

É uma das coisas mais difíceis que eu já fiz. Não correr dessa autoavaliação. Prestar atenção em mim mesma. No que eu sinto a cada momento do dia. No porque eu sinto cada coisa a cada momento do dia. Porque eu tenho mais vontade de comer um doce do que uma salada naquele momento de estresse, e porque eu me deixo sentir estressada em primeiro lugar. Porque eu fico toda tensa quando sento no computador, seja para trabalhar ou para assistir uma série. Porque eu encolho o ombro e fico coma testa franzida quase o dia inteiro.

Tudo isso é um reflexo de como eu me sinto por dentro, não tem nada de influência externa. Ou melhor, até tem, mas porque eu deixo o que vem de fora me afetar. Até por isso, voltando à música, eu começo a deixar a maquiagem e a chapinha de lado, parar de ficar neurótica com um padrão de beleza tão absurdo e que eu nunca vou conseguir atingir porque, na minha cabeça, ele sempre aumenta de nível.

Essa falta de conexão é tão grande que eu percebi que quanto mais em contato eu fico comigo mesma, menos o meu guarda-roupa me representa. Sabe aquela coisa de ‘não tenho nada para vestir‘? Mas é muito mais no sentido de ‘essa roupa não tem nada a ver comigo‘ do que ‘tenho um armário gigante cheia de coisas compradas por impulso‘. Eu comprava roupas pelo simples fato de precisar me vestir. Usava de um estilo que não era meu para manter esse tal padrão.

Nesse meio tempo, também mudei meu quarto inteiro de lugar. Coloquei coisas nas paredes. Comprei uma mesinha colorida, enchi um quadro de fotos e referências, porque as paredes claras e vazias e o quarto sem aconchego nenhum não tinha nada a ver comigo.

Uma mudancinha que refletiu em absolutamente tudo. Essa semana, dei um doce que ganhei para outra pessoa porque quero comer melhor, mas no dia seguinte queria tanto me dar um muffin de recompensa que comi sem culpa, afinal, até ali estava fazendo um bom trabalho e me controlando mais.

Ao que parece, como tudo nessa vida, é um processo longo e que tem altos e baixos. Mas uma coisa que eu gostei muito é de me olhar no espelho e não ver mais tantos defeitos assim. Até do cabelo sem corte eu tô gostando! Ao mesmo tempo que tenho me interessado cada vez mais por moda e beleza, eu não tenho mais medo de sair de casa sem maquiagem. E os dias sem make têm sido mais comuns do que os com.

Pouco a pouco, vou ocupando por inteiro essa forma que o universo criou para aproveitar isso que chamamos de vida. Coisa louca. E uma das experiências mais doidas do mundo. Convido você a tentar também.

Take your make up off
Let your hair down
Take a breath
Look into the mirror at yourself
Don’t you like you?

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Escrito pelaMaki
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2 Comentários
  1. BA MORETTI  em maio 26, 2015

    processos de desconstrução não costumam ser fáceis mas valem tanto a pena né? também entrei nessa vibe de prestar mais atenção em mim, nas coisas que eu gosto, no por que de eu gostar delas e por aí afora. quero me amar por inteiro, me sentir representada por mim mesma sabe 🙂 a gente se deixa passar muito tempo tentando ser algo que a gente não é 🙁

    • Maki  em maio 27, 2015

      SIM! Exatamente isso, Ba! E é tão cansativo, né? Tentar ser alguém que a gente não é… Uma hora a gente não tem mais forças pra manter essa fachada e desmorona por completo.