(Antes de mais nada, eu queria agradecer – e MUITO – pelas respostas ao post sobre suicídio. Vocês não sabem como eu fiquei emocionada e honrada com os acessos, mensagens e tags no Facebook! MUITO OBRIGADA!)
Eu sempre gostei muito de usar preto. Com a minha influência pseudo-punk na adolescência, amante de música underground, de passeios pela Galeria do Rock, munhequeiras e cintos de tachinha, achei que era normal eu não usar cores. Pelo menos, não muitas.
Depois de um tempo, eu percebi que o meu guarda-roupa inteiro era preto e, enquanto isso poderia até parecer normal, em um nível consciente, aos poucos aquela escuridão toda começou a me incomodar. Eu percebi que em todas as fotos eu usava preto. Minhas produções ficaram monocromáticas e eu não conseguia nem pensar em me vestir de outra maneira. Era como um bloqueio.
Quando fui para a França, aquele pretume todo realmente me pegou em cheio. Lembro de um dia abrir o armário e pensar ‘Poxa, é sério que eu só trouxe roupa preta?‘. Eu tinha até preguiça de me vestir todo o dia de manhã.
Adiantando a história alguns meses, quando comecei o tratamento para depressão, contei essa história para a minha terapeuta, que logo soltou palavras que eu não esperava:
“Mas é claro que você só usa preto,você está de luto“.
Péra. Luto? Como assim?
E então ela me explicou que as roupas que eu usava não eram nada além da representação do que eu sentia. O que, na verdade, é o que eu sempre soube da moda. Eu sentia que estava, metaforicamente, ‘morta’, que não tinha o que celebrar no meu intelecto ou no meu corpo. Basicamente, eu não me achava merecedora de qualquer coisa, e isso refletia do lado de fora.
Para mim, fez muito sentido. O que eu menos tinha era amor-próprio, autoestima, então não era de se surpreender que eu estivesse de luto. O amor por mim mesma tinha morrido (ou, eu suspeito, ele nunca floresceu de verdade).
Isso foi muito assustador e muito legal de perceber, porque ali eu pude começar o processo para reverter essa situação. Até comprei uma roupa colorida no meio do caminho, como eu bem contei por aqui.
O caminho para o autoconhecimento é longo e, eu acredito, sem fim. Mas cada momento que nós tiramos para analisar uma sensação, um sentimento, uma reação, é um passo à frente nessa estrada de tijolos amarelos.
Como tudo nessa jornada (ai, que palavra brega!), não é fácil, mas cada pequena vitória conta.
Eu, por exemplo, percebi que não me vestia para mim, e sim para os outros. Deixei de usar as peças ‘louquinhas‘ que eu gostava na infância/adolescência para usar roupas consideradas ‘normais‘. Que bobagem, né? Mas ainda hoje é difícil escolher uma roupa sem antes pensar o que os outros podem achar do look.
E, posso dizer, sair desse ciclo é tão complicado que eu ainda não consegui totalmente (mas continuo tentando e, no grande esquema das coisas, é isso que realmente importa).
Hoje é escolher um batom diferente. Amanhã um sapato divertido. Depois uma saia rosa. Aos poucos caminho em direção à meta.
Vocês já sentiram essa dificuldade também? De se vestir para si e não para os outros?
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6 Comentários
Engraçado que, de tanto usar preto, eu ganhei o apelido de “Lady in Black” que foi por muito tempo o nome de um blog que eu tinha e até de uma lojinha brechó! E eu achava que esse era meu estilo, que eu era feliz assim.
Muita gente se atentou para o fator depressão, mas como sempre a tive e me sentia até bem na época, não liguei aos fatos (como se desse pra conviver com isso uma vida toda, né). Finalmente, criei coragem para pedir ajuda e me cuidar.
Que bom que você também fez isso <3
que amor, Mileni. fico muito feliz que você se cuidou e agora tá aí, cheia de carinho pra dar! <3
Eu passei um bom tempo de minha vida usando roupas pretas, agora uso de vez em quando, sinceramente me acho feia de preto e antes achava bonito não entendi a mudança de gosto. Mas prefiro cores
Oi, Zila!
Olha, eu uso muito preto, mas tirei um significa ruim disso. Gosto muito da cor e nunca fui de usar cores vibrantes… Mas isso é normal, os gostos mudam mesmo!
DURANTE AS FASES MAIS “ALEGRES” DA MINHA VIDA (SEJA BALADEIRA, SEJA CRIANÇA, SEJA ADOLESCENTE REBELDE DE CABELO ROSA..) EU NUNCA USEI ROUPA PRETA. E ATUALMENTE USEI PAR A “EMAGRECER” COMO DIZEM… COINCIDENCIA OU NAO, JA ME DISSERAM, SEM SER PELA ROUPA, MAS POR DIVERSOS FATORES, QUE EU ESTOU NO PRIMEIRO ESTAGIO DA DEPRESSAO…OU SEI LA COMO CHAMAM.
NAO QUERO PEDIR AJUDA, NAO TENHO CORAGEM. MAS ESTOU AQUI LENDO O BLOG…
Oi, tudo bom? Acredite: você tem coragem sim! Você dentro de você a força que precisa para cuidar de si! Se ler o blog já te ajudou um pouquinho, que ótimo! Mas tenha certeza que SEMPRE vai existir alguém pronto para te ajudar!