rotinas com afeto

ainda pensando sobre como cada escolha significa uma renúncia, me peguei observando um desejo insano de continuar dormindo o máximo de tempo possível. veja bem, não é que eu não queria acordar, mas é que eu não queria muito acordar. o cansaço veio e fez morada no meu corpo e eu não encontrei meios de mandá-lo embora.

“cansada, me esqueço de mim”

nisso, tenho pensado muito também sobre energia vital, essa coisa que faz a gente se mover e falar e dançar e cantar e que tem me escapado pelos dedos. e uma frase, em particular, me chamou a atenção hoje. eu estou fazendo, pela segunda vez, os exercícios diários do livro Um Curso Em Milagres e, em dado momento, o autor diz o seguinte:

o corpo é colocado em perigo pela mente que fere a si mesma. – um curso em milagres

achei forte. me peguei pensando quantas vezes no dia permito que minha mente em processo de ferimento coloque o meu corpo em perigo também. e, talvez, a agenda lotada e a falta de descanso sejam suas justificativas preferidas para manter esse loop.

minha amiga criatividade me conta, a partir desse combo explosivo, que prefere não participar da conversa se as coisas continuarem dessa maneira. e, de certa forma, não posso deixar de concordar com ela – afinal, que tipo de musa toparia participar de uma vivência em que a mente faz de tudo para ferir o corpo? com ferramentas quebradas e que não funcionam direito, fica realmente difícil criar qualquer coisa.

e borbulhando nesse caldeirão de ideias, me lembro de bell hooks, essa pessoa maravilhosa que escreveu um livro inteiro falando sobre o amor. ela fala, em Tudo sobre o amor, sobre como ele funciona de verdade, de que maneira ele é a salvação pras mazelas do mundo. pareceria idealista, se não fosse 100% realista. ela dedica um capítulo inteiro para o amor-próprio – e eu sei que a gente já cansou desse termo, mas, no caso da bell, é um uso que faz sentido.

quando vemos o amor como uma combinação de confiança, compromisso, cuidado, respeito, conhecimento e responsabilidade, podemos trabalhar para desenvolver essas qualidades ou, se elas já forem parte de quem somos, podemos aprender a estendê-las a nos mesmos. – bell hooks

ela fala sobre o amor de um jeito que dá vontade de praticar. nesse capítulo, em específico, ela diz como lidava com um trabalho que não gostava dando o seu melhor e que o trabalho executado com amor nutre a auto-estima.

liguei os pontos.

e percebi que fazer o mínimo não significa fazer as coisas sem amor. pelo contrário. talvez eu deva usar o meu momento de baixa energia vital para entender qual é o meu máximo dentro do mínimo, e de que forma eu posso nutrir a estima que tenho mim a partir do que faço.

desde então, me sinto mais descasada.

e mais criativa também. as palavras têm fluído pelos meus dedos com mais facilidade e o desejo de chegar ao fim de uma tarefa parece mais emocionante do que se fizesse o máximo entregando o mínimo. porque a proporção é inversa, né? ao fazer o mínimo, percebo, me entrego muito mais do que se fizesse o máximo.

e considerando o quanto o mundo ama o ser humano produtivo, penso que essa é uma reversão de ideais que coloca qualquer coach em puro desespero. mas, coitado, infelizmente ando sem tempo de resolver as questões dos outros porque me vejo cuidando demais das minhas. espero que se recuperem bem do choque.

então, opto por fazer o mínimo. tento entregar o máximo. e vejo, aos poucos, o corpo reencontrando um estado de relaxamento e calma que não sentia há tempos. a ansiedade dá uma trela também, e observar o por do sol da janela enquanto termino de trabalhar volta a ser inspirador. caminho, mesmo com pés cansados, em busca de frescor na mente, e busco mantê-la firme no mesmo lugar, sabendo que o risco é um corpo em perigo.

e criação nenhuma sai de um corpo em perigo.

então, descanso. assumo a responsabilidade, confio e me comprometo, cuido, respeito e conheço. coloco o amor (primeiro comigo) como protagonista da cena e o deixo brilhar sob os holofotes. descubro, no processo, que escrevo melhor em sua companhia – e respiro com mais calma também.

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Escrito pelaMaki
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2 Comentários
  1. Emerson  em maio 31, 2022

    Que graça esse texto. Como o amor é importante em nossas vidas, não é mesmo?! Ele é a mola que nos impulsiona. Mas como falou, primeiro a gente tem que ter amor próprio, para depois amarmos os nossos semelhantes. Texto ideal para o próximo mês que se aproxima.

    Boa semana!

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    Até mais, Emerson Garcia

    • Maki  em junho 08, 2022

      exatamente!
      é sobre isso, Emerson!
      brigada pelo comentário <3