rotinas com afeto

na semana passada, me perdi ouvindo um dos vários podcasts que o Austin Kleon gravou como convidado nos últimos tempos, e me apeguei numa frase que ele soltou num deles – num vou lembrar qual por nada no mundo! mas eu acho que foi no Creative Pep Talk:

eu acho que atenção é amor.

eu fiquei pensando nisso, sabe? pensando mesmo. de verdade. do tipo: parei uns cinco minutos olhando pro vazio deixando essa frase entrar cada vez mais fundo nas dobrinhas rosadas do meu cérebro.

daí, como as coisas costumam acontecer por aqui, eu entrei no Instagram e tava lá essa mensagem do Um Cartão, falando que “ter a atenção de quem a gente gosta é bom demais”. e fiquei pensando mais um pouco sobre o assunto.

porque é verdade, sabe? receber atenção de quem a gente gosta é muito bom. atenção é, mesmo, um sinal de amor. mas talvez eu possa só fazer uma pequena adaptação e trocar a palavra “atenção” por “interesse”, porque me parece mais apropriado.

infelizmente, falar em atenção me lembra do tanto que as redes sociais trabalham pra manter a gente colada numa tela de celular o máximo de tempo possível, sem considerar exatamente o efeito que isso têm na saúde mental das pessoas e no funcionamento da sociedade como um todo.

tá, fui um pouco longe demais, eu sei, mas eu já vi Ted Talks e documentários o suficiente e li matérias até cansar pra saber que estamos na “era da atenção”, e quanto mais você consegue prender a atenção de alguém, melhor.

mas aí que entra a minha adaptação, porque eu não sei se atenção e interesse são a mesma coisa.

eu acho que não.

porque interesse tem a ver com se interessar, com querer saber, querer entender. fui até no dicionário procurar o que significa, ó:

interesse
sub. masculino
1.o que é importante, útil ou vantajoso, moral, social ou materialmente (“um serviço de i. público”); 2.estado de espírito que se tem para com aquilo que se acha digno de atenção (“ouvir com i.”); 3.qualidade do que retém a atenção, que prende o espírito (“um romance cheio de i.”); 4.importância dada a algo. (“um assunto de i. capital”).

e aí fui ver “atenção” também, pra ver se o que eu tô falando faz sentido.

atenção
sub. feminino
1.concentração da atividade mental sobre um objeto determinado (“ouça com a. o que diz o diretor”); 2.concessão de cuidados, gentilezas, obséquios etc. (us. freq. no pl.) (“a princesa vive cercada de atenções”); 3.ato ou efeito de se ocupar de (alguém ou algo); cuidado, zelo, dedicação (“criança que cresce sem a. tem o desenvolvimento retardado”); 4.boa vontade, disposição para ouvir o que alguém tem para dizer (“foi dar queixa mas não lhe deram a menor a.”).

e acho que sim, sabe? porque atenção não necessariamente significa interesse (de se interessar, e não de ser interesseiro, importante frisar), ao mesmo tempo que atenção tem a ver também com cuidado. mas acho que o ponto-chave é a importância que aparece no primeiro tópico. se algo é importante pra você, você vai ter um interesse nisso. se não é, você até pode prestar atenção, mas isso não significa que você está interessado.

tudo isso pra explicar que sinto que podemos estar na era da atenção, mas é o verdadeiro interesse que faz a diferença na vida de alguém, que dá essa sensação boa que o Um Cartão tava falando. os momentos em que mais me senti querida foram quando outra pessoa se mostrou verdadeiramente interessada pelo o que eu estava falando, pelo o que sentia, pelo o que escrevi ou pelo o que eu trouxe pra conversa. e sinto que fiz a mesma coisa quando me interessei pelos outros também.

e eu fiquei com isso na mente porque o que a gente mais vê por aí é gente tanto chamar a nossa atenção de diferentes maneiras, formas e formatos, com luzes brilhantes e cores chamativas, com títulos (até meio) enganadores e grandes transformações. mas o quanto será que essas pessoas estão realmente interessadas por quem consome o que elas postam (por exemplo)? e quem garante que tem interesse do outro lado também?

“onde estiver o seu tesouro, ali estará também o seu coração”, disse um sábio, certa vez, e acho que essa fala nunca fez tanto sentido pra mim. interesse é uma forma de amor porque significa que o coração daquela pessoa tá em você. atenção é sempre bom porque ninguém quer derrubar velhinhos (ou qualquer outra pessoa) descendo às pressas do ônibus, mas o interesse parece ser um passo além porque, no mínimo, eu posso perceber que esse velhinho precisa de ajuda pra descer os degraus altos.

acho que gostaria de transitar por aí mais interessada pelas coisas e pelas pessoas. e, sei lá, eu tenho lido tanto, tantas coisas diferentes, mas o quanto do que eu leio tem sido consumido com atenção e o quanto com interesse? e se eu só fosse atrás daquilo que realmente me interessasse? onde será que eu pararia?

(algo me diz que eu daria uma de Austin Kleon – de novo – e descobriria a minha própria árvore genealógica de inspirações.)

no fim, refletindo aqui, parece que tudo é a mesma coisa mesmo, mas uma é só um pouco mais profunda do que a outra. e, sei lá, me deu vontade de prestar mais atenção e ter mais interesse. afinal, atenção (e interesse) é amor.

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Escrito pelaMaki
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7 Comentários
  1. Emerson  em maio 05, 2021

    Que belo texto reflexivo. Que possamos importar com as pessoas sempre.

    Boa semana!

    Jovem Jornalista
    Instagram

    Até mais, Emerson Garcia

  2. Jae  em maio 01, 2021

    Oi Maki!
    Olha só, tô todo arrepiado, sério.

    É muito diferente quando a gente sente que as pessoas estão /interessadas/ no que a gente tem a dizer. Ou não precisa nem querer dizer nada, quando a pessoa chega e lhe pergunta um simples “como foi seu dia” ou “como foi hoje na faculdade”, ou qualquer variação dessas. E então você começa a relatar e você /percebe/ que a pessoa /realmente/ quer saber como você está. É muito estranho eu achar isso fantástico? Tipo… será se eu preciso de ume psicólogue? (hoje em dia quem não, né? mas não é esse o ponto)
    Eu acho que é sempre melhor dar do que receber, é uma filosofia que eu tento forçar na minha personalidade todos os dias, então eu tô sempre tentando dar esse interesse às pessoas. Pq acho que no fim do dias todos nós sentimos falta desse calor humano, é aql papo sobre o toque, de novo. Há muito que eu não interpreto calor humano como algo físico, é aquela atitude que deixa nosso core quentinho, sabe? E, nossa, às vezes faz falta de mais. Pq mtas vezes nós estamos perto, mas n estamos presentes, né?

    (Off-topic: eu finalmente comecei meu diário e todas as manhãs eu paro uns trinta minutinhos para escrever nele. Me dedico a uma página apenas, acho que é o suficiente por enquanto. Pq ngm nunca disse que minha mão iria me /implorar de joelhos, pufavô,/ para q eu parasse? Já faz cerca de vinte dias, então ela não dói mais, porém na primeira semana foi … horrível kk)

    Obg pelo post, Maki!!!

    • Maki  em junho 14, 2021

      Jaaaaae <3
      cara, você falou tudo. acho que o contato físico, no fim das contas, pode ser uma extensão desse "calor humano", né?
      que reflexão incrível, essa!

      (e eu super entendo! ahahahahahahaha passei por isso também por um tempo!)

      brigada pelo seu comentário <3

  3. Luciana Souza  em abril 22, 2021

    Ual, realmente fez sentido. Concordo que interesse é um pouco mais amor que atenção, afinal como tu mesma disse “o fato de estar prestando atenção e algo não quer dizer que esteja interessado”, apesar de as duas andarem lado a lado acredito que interesse é cuidado, enquanto atenção é responsabilidade. Amei a reflexão como sempre.

    • Maki  em maio 23, 2021

      nossa, você definiu de um jeito incrível, Luciana! amei, mesmo <3

  4. Roberta  em abril 21, 2021

    Mulher, te li com muita atenção e interessada pelo que você dizia =P… mas eu acho que gosto mais de “atenção” mesmo. E eu penso muito na relação com meus filhos, eu gosto de prestar atenção neles, fico tentando ouvi-los falar e confesso que nem sempre consigo me interessar pelo assunto em si (qnd é sobre alguma atualização do jogo de um ou o sonho maluco da outra rs). Então foco em prestar atenção nos detalhes, sabe? No jeito que eles falam, na forma como sorriem quando falam sobre algo que é do interesse deles, no brilho nos olhos, na animação da voz… fico prestando atenção nesses detalhes e tentando guardar na memória porque eles mudam dia a dia.

    Já senti culpa pelo meu desinteresse, e já desisti dela. É desgastante o esforço para me interessar pelo que não me interesso, tento deixar isso mais natural hoje. Até pq tem assuntos que são interessantes para mim e para eles, tem assuntos que são interessantes só para eles e tem assuntos que são interessantes só para mim.

    Mas talvez eu tenha interpretado errado o interesse, pq foquei no assunto em si e não na pessoa. Vou seguir o dia pensando nisso… rs

    bjss

    • Maki  em maio 16, 2021

      ahahah Roberta, eu amei a sua reflexão! é isso, se você saiu desse post com algo pra pensar sobre, então ele cumpriu com a função dele.
      e é muito normal que você tenha assuntos que te chamem mais a atenção (viu o que eu fiz aqui, né?) e outros que te chamem menos atenção, mas o interesse é algo que está por trás dessa atenção pelo assunto, como você falou! fica dica de treininho pros seus hehe 😉