“escrevo como quem manda cartas de amor” é o que diz Emicida na música Cananéia, Iguape e Ilha Comprida, uma das minhas favoritas do álbum AmarElo. o verso não me sai da cabeça desde que eu vi o documentário do rapper na Netflix no começo de dezembro, e sinto que foi um recado do universo pra eu prestar mais atenção no que escrevo.
aliás, não só no que escrevo, mas como escrevo. 2020 foi uma montanha russa pra todo mundo, inclusive pra mim, que moro no topo de uma montanha de privilégios. ainda assim, foi um ano que me fez pensar muito sobre porque estamos todos aqui. isso se relaciona com o verso do Emicida da seguinte maneira: eu, cria da internet, me cansei dela. cansei a ponto de não querer mais saber de blogs, redes sociais e de escrever.
por alguns meses ali entre março e dezembro, eu tive vontade de jogar tudo pro alto, quis tirar um período sabático, passar uma fase distante das telas. não seria a solução, claro, apesar que eu comecei e tirar mais momentos de descanso das famigeradas telinhas. foram muitas conversas, muitas horas de choro, muitos risos engasgados até entender que há um meio-termo e que o conforto, que eu sempre defendi com unhas e dentes por aqui, é possível.
(e, diga-se de passagem, não precisa de defesas!)
pois é. descansei, repensei, me inspirei e vi surgir, no fundo da minha mente, um desejo genuíno de fazer o tipo de escrita que me faz gostar de mim. felizmente pra mim mesma (e, eu espero, pra quem me lê), é do tipo cheio de coração e carinho, cheio de dedicação e cuidado, às vezes feito num flash, num insight que surgiu durante o banho, mas seguindo um ritmo que não necessariamente é o mesmo do mundo.
dizem que o mundo parou, mas, na verdade, ele continuou girando, talvez só num ritmo diferente do que as pessoas estavam acostumadas. vi mudanças acontecendo quase que em câmera lenta e me vi diante de respostas às perguntas que fiz há tanto tempo que já nem me lembrava mais do quanto ansiava por elas. busquei, dentro de mim, o que seria necessário para continuar em frente, completamente esquecida de que essa é uma via de mão dupla e que dar e receber são a mesma coisa.
comecei a dar mais e me emocionei com o que recebi de volta (e que percebi chegar, claro!). me vi mais presente na minha própria vida e na dos outros, e com um borbulhar crescente no peito de que estava começando a tomar o rumo certo, dessa vez de forma consciente.
então, sim, escrevo como quem manda cartas de amor e, aqui, faço minhas as palavras de Emicida, porque, como ele, escrevo com um desejo profundo de ver mais amor por onde ando, uma substituição justa e válida pro mundo caótico que vimos crescer até agora. não serei ingênua a ponto de esperar que o mundo seja cor-de-rosa amanhã de manhã, quando acordar, mas sou realista o suficiente para ter certeza que cada vez que escrevo com o amor que sei existir dentro de mim na ponta dos dedos, seus contornos cinzas ganham cor.
por isso, escrevo, agora mais tranquila.
escrevo certa de que o faço é não só por você que tá do outro lado da tela, mas por mim também, porque preciso colocar para fora tudo o que tenho aqui comigo. curioso que a ideia de que perco sempre que dou parece se tornar cada vez mais fraca na minha mente e, tal qual a multiplicação dos pães, vejo crescer exponencialmente a quantidade do que tenho.
qual é a solução pro mundo? como salvar o mundo? aliás, é possível salvar o que parece não querer ser salvo? de fato, é, sim. pós-2020, me vejo certa que essa possibilidade reside no coração de cada um e que aqueles que já têm ciência disso, como eu, como Emicida, podem convocar aqueles que, apenas ainda, não se ligaram disso. esse texto é uma convocação, um manifesto, um chamado, uma carta de amor. depois de tantos textos confusos e sem nexo, tantas tentativas e erros, digo com confiança que venho para ficar e que, daqui pra frente, minhas palavras serão (ainda mais) repletas de amor.
(ps: uns dias depois de escrever esse texto, li esse post da Cristal e assino embaixo de tudo o que ela falou. estarei mais aqui e onde puder para criar conexões verdadeiras de forma consistente. tenho pra mim que esse, sim, é o futuro ❤️.)
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20 Comentários
É tudo tão lindo, tão maravilhoso de ler que estou me sentindo uma pluma de tão leve, Parabéns
ah, Marinalva! brigada por isso <3
Maki! Amei seu texto. Sua escrita com amor e alma me inspira toda vez. Sigamos criando conexões cada vez mais verdadeiras. Gratidão! 🙏💛
exatamente, Thamís! é sobre isso! obrigada <3
Oi!
Adorei o que você escreveu! Gosto de ler textos como esse, de saber que existem pessoas com intenção de criar conexões diferentes das que a gente tem visto, que carregam tanto… sei lá, mal estar (?), turbulência (?). Adoro encontrar nos textos essa busca por refúgio, esse sentimento de querer algo melhor pra todo mundo, e essa conexão gostosa que só as cartas têm, ainda mais de amor. E também me sinto impelida a fazer parte disso. 🙂
Ale, faça! quanto mais cartas de amor no mundo, melhor! ❤️
vim ler o post depois da nossa conversa de hoje, e: que coisa linda! já é certamente o meu texto preferido entre todos que li por aqui <3 tô cada vez mais certa (talvez por estar lendo muito livros que falam sobre isso) que a melhor forma da gente contribuir com o mundo, é criando coisas que sejam reflexos verdadeiros de quem a gente é. aquele negócio de criar o que a gente quer ver no mundo mesmo. e esse seu texto me fez pensar muito nisso, especialmente depois de um ano tão doido, que me testou tanto e me fez pensar em desistir (de tudo que tava fazendo, do mundo e de mim) muitas vezes. animada pra acompanhar essa ~nova fase do desancorando e tudo que está por vir <3
ka, brigada por ter comentado!
e fico feliz que o texto tenha feito você refleter (ainda) mais sobre isso! eu super concordo. acho que a gente tem mesmo que colocar a nossa energia no que a gente quer ver de bom no mundo e, pra mim, esse post foi uma dessas coisas <3
Eu me sinto tão sujo por consumir seu blog como um livro e não lhe dar nenhum feedback por isso aosdkapsdkoasdopas imensas desculpas. Os seus textos são sempre tão inspiradores, que quando eu os leio o meu humor se transforma completamente e eu me sinto muito mais leve
Eu sei que tô lhe enchendo de responsabilidades quando digo essas coisas, mas calma akakakaka
Eu só quero dizer que sério, muito obrigado por blogar.
Jae, não se sinta sujooooooooooo! por favor, é uma alegria ter você por aqui!
brigada mesmo por esse comentário, é muito saber que a minha escrita te alcança desse jeito ❤️
Oi, Maki!
Leio o seu blog há pelo menos uns 4 anos. Sempre me animo com suas newsletters. Só não tive coragem de comentar por pura timidez e tolice da minha parte.
Adoro o jeito como você escreve. De verdade, sempre me sinto abraçada quando leio os seus textos. Agradeço por ter decidido continuar escrevendo com o coração.
Aprecio muito sua positividade, isso me ajuda a olhar o lado bom das coisas.
Esse seu post, em especial, me despertou para realizar algo que queria fazer há muuuito tempo. Faz pelo menos 3 anos que venho adiando começar meu próprio blog. Tive muitos pensamentos sabotadores, mas assim que recebi a sua news e li esse texto, percebi que eu estava sendo tola em deixar de fazer algo que me faz gostar de mim, como você disse.
Obrigada por abrir os meus olhos, hoje publiquei o primeiro post no meu blog e estou tão feliz. Também tomei coragem e vim aqui conversar com você. Vim deixar meu comentário para apoiar você e o seu trabalho que me ajuda tanto.
Abraços cheios de amor para você! 💜💜💜
Até logo, pois de hoje em diante vou sempre aparecer por aqui para comentar e apoiar você e o seu trabalho que me ajuda tanto.
Ana, tá permitido chorar com o teu comentário?
sério, brigada por isso, pelo seu feedback, mas, principalmente, brigada pela sua coragem!
um abraço cheio de carinho pra você também! ❤️❤️
Makiiii… por essas e outras que a internet vive uma revolução diferente a cada dia e eu sigo te acompanhando aqui: porque a sua escrita conecta de verdade, provoca conversa e alimenta o pensamento. Aqui não me sinto consumidora de conteúdo, mas parte ativa de uma conversa que vale a pena ter. Gratidão pela partilha! E também por referenciar o post da Cristal, lidos juntos me deram muita coisa boa em que pensar aqui. Abraços, Priscila
Pri, meu Deus que comentário mais maravilhoso! obrigada por isso, eu tava precisando mesmo ler isso e saber que o que eu faço daqui ressoa por aí <3
às vezes, escrever pra internet parece bem solitário, mas sinto cada vez mais que a gente consegue se unir, se colocar o coração pra tocar o barco <3
um beijo!
Makiii, que delícia de resposta, gratidão 🙂 conexão é isso né, é conversa viva, troca real. Depois de ler seu post e o da Cristal me propus mudar a forma de habitar a net: dedicar tempo e atenção pra ler, sentir e responder, reverberar prosas construtivas. Bem diferente da lógica de “consumir conteúdo” em que me peguei sem perceber, correndo o olho num monte de foto, lendo picado um punhado de textos, saindo exausta de informação e vazia de sentimento …
“que conforto no peito é consertar um conceito” como diria a música do Affonsinho (que recomendo muito).
Aproveito pra desejar um ano novo de conexões vivas e criatividade ativa, que é o que você compartilha aqui: palavras que conectam. Abraço apertado, amora, feliz ano novo!
“seguindo um ritmo que, não necessariamente é o mesmo do mundo” fincou dentro do meu peito, revirou, mexeu, machucou, aliviou, dissipou e espalhou. nessa ordem. e tô eu aqui, mais uma vez, segurando esse chorinho na garganta ao ler a sua sensibilidade (que você transforma tão bem em palavras). obrigada por essa onda intensa e tocante de sensações, que você causou em 3 minutos da minha manhã, mas que vai ficar aqui por um bom tempo. ;*
tenho nem roupa pra receber esse feedback teu, Lominha <3
brigada por me acompanhar há tantos anos e, principalmente, por ser uma amiga tão querida e que me traz tanto dessa sensação de acolhimento que eu busco estender pra quem me lê <3
Excelente Ano de 2021; eu te aconselho a prosseguir. Danke!
ah que texto mais lindo para se ler em uma quarta-feira de manhã, escrever com o coração é como nos entregar para o mundo, mostrar nossa verdadeira face, sem medo, sem amarras, concordo que a internet e suas conexões tem mudado muito constantemente e isso me deixa um pouco confusa, é como se só existessem relações rasas, amei o texto e a linha de pensamento me fez lembrar de quem um dia eu fui, talvez devesse voltar a escrever com o coração, como cartas de amor.
Obrigada por isso Maki 🙂
Lu, faça isso, sério. não tem nada mais gratificante do que isso!