cotidiano

a última semana foi meio atípica. daquelas em que eu caí no tradicional “o início de um sonho / deu tudo errado“. eu precisava fazer uma coisa e surgia uma reunião. eu tinha uma reunião marcada, mas ela era cancelada. precisava muito terminar uma tarefa, mas entrava outra no caminho. achei que teria um tempo livre, mas surgia uma demanda totalmente diferente.

pode esperar

acho que deu pra ter uma ideia, né?

tô dizendo isso porque foi uma semana em que ficou muito na minha mente uma pergunta que a Fran Meneses, do Frannerd, falou um tempo atrás num podcast que, vira e mexe, eu escuto de novo:

o que pode esperar?

eu sei que quando a gente fala em trabalho, a sensação é que tudo é muito urgente e nada pode esperar. é tudo pra ontem, tudo tá atrasado e as coisas se atropelam. trabalhando de casa, então, parece que o tempo perde todo e qualquer sentido e, quando você vê, são oito da noite e você não cumpriu com metade da sua lista de tarefas.

eu me perguntei muito esses últimos dias o que podia esperar. dentre todas essas tarefas, o que dava pra segurar um tiquinho? dentre todas as pessoas que eu atendo, quem pode esperar um pouquinho mais pra receber o combinado? se entrou uma reunião na hora de fazer uma tarefa X, essa tarefa pode esperar até amanhã ou eu tenho que remanejar o dia todo e ver o que, de fato, pode ser jogado pra outro dia?

esse tempo que eu fiquei pensando sobre cultura slow e buscando entender o meu ritmo, me fazer essa pergunta foi meio essencial. percebi que muito da ansiedade que eu sentia com trabalho vinha da minha crença de que nada poderia esperar e que tudo era pra ontem.

dá até uma úlcera, né? pensar assim.

daí, eu comecei a ser mais sincera. o dia foi atípico, dá para esperar até amanhã? tive umas questões hoje, posso entregar no começo da próxima semana? isso é mesmo urgente ou dá para segurar mais algumas horinhas?

acho que quando a gente fala em gestão de tempo, tem um fator que a gente esquece de considerar: o que a gente sente. a gente passa os dias sentindo um monte de coisas, muitas vezes enrolada num novelo de ansiedade e estresse e topa fazer as coisas achando que é impossível mudar prazos ou processos só porque alguém, em algum momento do tempo-espaço, disse que tinha que ser assim.

se você trabalha como autônomo (assim como eu) vai perceber que, via de regra, quem estabeleceu essas regras foi você mesmo.

puts.

mas a boa notícia, e uma que eu tenho recebido com muito carinho, é que a gente pode mudar de ideia. e, mais do que isso, a gente pode conversar com as pessoas pra encontrar o conforto.

se a coisa pesa pro seu lado, o que pode esperar? é uma pergunta tão simples, né, mas que faz uma baita diferença. e o principal não é nem definir o que pode ser passado pra depois, mas lembrar que tá tudo bem você remanejar a sua agenda pra ficar bem, sabe?

nas últimas semanas, já pedi um adiamento de entrega porque os dia foram cheios de reuniões e eu simplesmente precisava descansar. e tudo bem. o chão não ruiu sob os meus pés, o céu não ficou escuro durante o dia e eu não vi nem sinal dos cavaleiros do apocalipse. ficou tudo bem, a entrega foi feita, só demorou um pouco mais pra acontecer.

pode esperar

nisso, eu percebi que a gente sente bastante medo de falar com os outros sobre os nossos desconfortos e achar que a gente precisa lidar com uma carga absurda de trabalho (por exemplo) completamente sozinha.

nem tô dizendo que você precisa contratar alguém pra te ajudar, recusar trabalho ou qualquer coisa assim. não é isso. mas é confiar que as pessoa vão entender quando as prioridades mudam e que você pode colocar o seu conforto em primeiro lugar.

a gente trabalha melhor quando tá bem, né?

parece que ser profissional é isso, é a gente fazer tudo o que é pedido do jeito que é pedido porque as coisas são assim. mas tenho percebido, cada vez mais, que ser profissional, pra mim, tem tudo a ver com fazer entregas com qualidade, cuidado e carinho. e isso começa comigo mesma.

então, quem sabe a gente não possa começar essa conversa. tá com o dia doido porque surgiu um monte de coisa fora do planejado? o que pode esperar? a reunião demorou mais tempo do que você esperava? o que pode esperar? surgiu um baita projeto de última hora?

o que pode esperar?

e tá tudo bem. às vezes, a gente precisa desse tempinho extra pra terminar uma coisa direitinho. pra fazer com calma. às vezes, até pra descansar mesmo. fazer uma pausa. recuperar as energias. acho que, nesses casos, esperar um pouquinho nem é tão ruim assim, né?

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Escrito pelaMaki
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4 Comentários
  1. Alexandra  em julho 21, 2020

    Isso. Eu tenho um problema muito grande em “reclamar” meu tempo, prazos. Sempre acumulei todo o trabalho pra cima de mim. Percebi, depois, que no fundo tinha vergonha de delegar as coisas e de pedir outros prazos, tinha vergonha de ser vista como preguiçosa. Isso é algo que a gente precisa refletir sobre também, porque não é normal se sobrecarregar e não é preguiça querer tempo. A gente se cobra demais.

    • Maki  em agosto 16, 2020

      nossa, Ale, com certeza! a gente se cobra muito mesmo. e não precisa, né?

  2. Nana  em julho 14, 2020

    Acho que todo mundo vive com um senso de urgência desnecessário hoje em dia. Temos que ser produtivos até nos nossos momentos de ócio (tenho que maratonar tal série, tenho que terminar tal livro). Ninguém tem-que-nada. É importante mesmo conseguir rever seu tempo e fazer tudo conforme sua vida, seu ritmo.
    Tem postagem nova no blog – se possível, passa por lá!
    Bj e fk c Deus.
    Nana – http://procurandoamigosvirtuais.blogspot.com/

    • Maki  em julho 17, 2020

      oi, Nana! é isso mesmo. tão bom a gente levar as coisas no nosso tempo, né? <3