inspiração

eis que, dia desses, me deparei com uma tirinha no Twitter que falava assim “quando tudo isso acabar… se acabar… terei que reaprender a viver”. ela ficou dias aberta no meu browser enquanto eu buscava entender o que fazer com ela (se é que tinha algo ser feito). daí, numa terça à tarde, enquanto observo a vista da janela depois de mais um dia de home office, eu paro pra pensar que tem muita coisa que a gente tem que reaprender.

reaprendendo a viver
a vista da minha janela é uma das coisas mais lindas que eu já vi

fico pendendo entre esse ser o melhor e o pior dos momentos. o segundo caso é por motivos óbvios. tem um vírus maluco lá fora que se alastra mais rápido do que fogo em palha e todo mundo tem que ficar em casa pra evitar o caos completo. e isso sem falar em…

bom, deixa pra lá.

e o melhor dos momentos porque nunca ficou tão claro a nossa necessidade de repensar as coisas. pendo também entre achar que vamos sair disso tudo como uma nova civilização, mais consciente, mais mais gentil, mais contextualizado. mas o lado humano da minha mente insiste em dizer que tudo vai voltar a ser como era antes.

mentira, claro, nada nunca mais vai ser como antes, assim como nunca foi depois de grandes acontecimentos como esse. pensando com os meus botões, me questiono sobre o meu papel em tudo isso. será que eu tenho mesmo que reaprender a viver? existe vida pós-quarentena? ir pro bar vai continuar sendo a mesma coisa?

até escrever essa frase me deu uma mini-vontade de me contorcer na cadeira. primeiro porque eu nunca fui de ir pro bar. segundo, porque o ato de ir para o bar, na minha cabeça, representa aquela história de sair por aí buscando distrações pra uma vida que a gente não gosta – e Deus me livre e guarde das coisas continuarem dessa maneira.

a pergunta que me vem na cabeça é uma que não me sai tem dias: o que eu gosto de fazer? e o que eu quero fazer? o que eu gosto? quem eu amo? o que me deixa em paz?

sim. talvez seja o caso de todo mundo reaprender a viver só porque talvez a gente não soubesse o que isso significava até agora. é fazer as coisas de um jeito apressado, sem carinho, sem cuidado? é fazer qualquer coisa porque todo mundo tem contas pra pagar no fim do mês? pelo amor de Deus, é se preocupar com contas e boletos e saldos de contas bancárias? é isso?

algo me diz que não e, mais uma vez, em um desses desabafos públicos que eu ainda não entendo porque faço, tento buscar um jeito de fazer as pessoas se sentirem menos sozinhas, menos desconfortáveis, menos desesperançosas.

começou a escurecer e vem um vento frio da janela aberta. são apenas alguns dias sem sair daqui e parece que eu já esqueci como é o mundo lá fora. o que importa, mesmo? o que há além do horizonte de concreto que vejo todos os dias? e quem tá por ali pra me receber?

abro os braços esperando alguém correr pro abraço. talvez demore um pouquinho, mas eu sou paciente. no fim das contas, acho que o reaprendizado não tem a ver com coisas, com tarefas, com afazeres. nem mesmo com metas ou quadros milimetricamente organizados no Trello.

tem a ver com pessoas.

tem a ver com o quanto a gente tá disposto a amar cada uma delas, a demonstrar esse amor e a ser mais gentil. a distribuir carinho. e a pensar mais no macro do que no micro.

simples? é, talvez não seja. mas necessário é, fato. ficar longe só me lembrou o quanto prefiro elas perto, mesmo que por um segundo. trocaria todos os dias de quarentena por um abraço, mas, principalmente, trocaria todo e qualquer isolamento do mundo pela lembrança de estamos juntos relembrando o que é viver.

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Escrito pelaMaki
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14 Comentários
  1. Lary Zorzenone  em maio 06, 2020

    aaaaa não tô sabendo lidar. Eu estou nessa mesma situação, pesando muito sobre o que eu gosto, se eu faço as coisas que faço porque gosto ou porque assim me foi dito para fazer. Esse tempo de reclusão está me fazendo pensar muito, muito mesmo, sobre quem eu sou, quem quero ser, onde quero chegar e, o mais importante, porquê? Porque eu quero isso tudo?
    Perfeito seu texto. Vamos levando, um dia de cada vez, e, quem sabe, sairemos todos de nossas casas como seres humanos melhores.

    Vidas em Preto e Branco

    • Maki  em junho 01, 2020

      Lary, eu torço muito pra que isso aconteça de verdade <3

  2. clara rocha  em abril 25, 2020

    e essa vista acolhe de tantas formas, não é mesmo ?
    falo todos os dias sobre isso com o marido. sobre como tudo vai mudar daqui pra frente. como mudam as coisas, quando passamos por momentos históricos. e o que isso reflete na minha vida, no meu circulo, no meu cotidiano ? o que isso diz sobre mim ? penso tanto nessas coisas.
    esse post, me confortou.

    • Maki  em maio 30, 2020

      aaaaaaa Clarinha! brigada por isso, mesmo <3
      fico muito feliz que você tenha sentido daí um pouco do conforto que eu senti daqui escrevendo esse post!

  3. Renata Ribeiro  em abril 18, 2020

    A gente se identifica mesmo, por favor, não pare! =D
    Tanto que tinha acabado de postar um texto parecido quando cheguei ao seu. Fiquei feliz por não ser a única a pensar sobre essas coisas, porque às vezes parece que a maioria está em negação.
    A gente já sentia a necessidade de mais calma, contato e realidade na nossa vida antes da pandemia. Que possamos sair dela com essa consciência ainda mais viva, ainda mais voltada para a prática.

    • Maki  em abril 20, 2020

      exatamente, Renata! e tenho certeza que a gente vai conseguir, sim <3

  4. Nana  em abril 14, 2020

    Que vista realmente incrível!!! Adoraria ficar em casa só para ter uma vista dessas.
    Realmente, esses dias tem sido dias de muita reflexão e de rever coisas que nunca imaginamos que precisariam ser revistas.
    Será que algum dia vamos voltar ao normal?
    Estou voltando aos poucos com o blog e gostaria do seu comentário por lá.
    Abraços e fique com Deus
    Nana
    http://procurandoamigosvirtuais.blogspot.com/

    • Maki  em abril 20, 2020

      Nana, o que seria normal, né? acho que, daqui pra frente, o mundo vai ser outro e tenho certeza que estamos cada dia mais caminhando pra uma realidade melhor, sabe? confiar, sempre!

  5. JEFERSON LOPES TOMAZ  em abril 14, 2020

    Amei o seu blog!
    Obrigado por ainda escrevê-lo!
    Tu ganhaste mais um leitor.

    • Maki  em abril 20, 2020

      que bom saber disso, Jeferson! brigada <3

  6. Aline  em abril 06, 2020

    Que delícia de texto. De fato, a humanidade sempre foi resiliente. A literatura por si mesma nos mostra o quanto se consegue evoluir após o enfrentamento de tempos difíceis. Poetas mais inspirados, colunistas mais dedicados e escritores mais inspirados são os maiores exemplos. Mas dessa vez sinto que a empatia e o altruísmo serão mais marcantes que a inspiração. Essa crise me fez conhecer seu blog, que por sua vez (coincidentemente), endossou o que eu buscava de conhecimento sobre desapego, já que a Pri do Vestindo Auto Estima tb está aqui no Desancorando. Pra mim é uma conexão cósmica. E é como você disse: estamos sempre nos reinventando e em movimento. E assim, sempre encontrando lugares e pessoas especiais, porque blogs são lugares e nos levam a pessoas especiais! É quando o que parece longe está pertinho, só à distância de um abraço 🤗.

    • Maki  em abril 10, 2020

      aaaa Aline, que comentário mais incrível! obrigada por isso, de coração <3

  7. Patt Souza  em abril 06, 2020

    Que gostoso, que bonito…deu uma acalmada aqui num dia que tava sendo meio esquisito.
    quanto aos desabafos, continue.
    a gente se identifica, se entende e vai olhando pra tudo isso junto. E acaba que tudo fica mais leve e mais simples, ou pelo menos parecendo que é ( o que já traz uma paz enorme )
    um abraço apertado 🙂

    • Maki  em abril 10, 2020

      Patt, você é um doce <3 brigada por isso!