cotidiano

pausas são legais desancorando

aquele cara incrível que eu cito aqui neste humilde blog um milhão de vezes, o Austin Kleon, escreveu em Roube Como um Artista uma coisa que eu fui buscar lá nos confins da internet (porque não lembrava onde tinha visto isso antes):

Reserve tempo para ficar entediado. Uma vez escutei um colega de trabalho dizer: “Quando fico muito ocupado, fico idiota”. Totalmente de acordo. Pessoas criativas precisam de tempo para sentar e não fazer nada.

(Roube Como um Artista, Austin Kleon, Editora Rocco, pág. 75)

se esse é o caso mesmo pra “pessoas criativas“, eu não sei. mas se você acessa esse blog com certa frequência, deve ter percebido que ele ficou um tempo entregue às traças (*tira a poeira com ajuda de um espanador de plumas coloridas*). eu confesso que não tinha me ligado quanto tempo tinha passado até receber uma mensagem falando sobre isso no Instagram. caramba, é verdade, quase um mês sem post por aqui.

vou contar um segredo pra você: escrever o post sobre fazer parte do clubinho teve um efeito gigante em mim. na verdade, foi a conversa que gerou esse post que teve um baita efeito, ele acabou sendo só uma ferramenta de otimização, pra falar bonito, do que tava passando na minha cabeça.

e o que isso tem a ver com ficar entediado?

tudo, porque eu não lembro quando foi a última vez que eu fiquei sem ter nada pra fazer. sabe? eu acho que passei os últimos… 15 anos, digamos, encontrando mais e mais coisas pra fazer, enchendo a minha agenda de estudo e trabalho e blog e isso e aquilo, que não tinha nem ideia do que era deitar na cama num sábado à tarde e ficar uma hora vendo os Stories porque tava sem ideia do que eu queria fazer.

perceber que eu não faço parte de um clubinho tirou das minhas costas uma pressão que eu nem sabia que tava ali e, nesse último mês, me senti mais leve. tem sido um período de ressignificação, entende? de entender de verdade o que eu tô colocando no mundo, por mais que já tenha falado sobre isso um milhão de vezes antes por aqui.

alguns momentos, eu achei mó legal não ter que me preocupar com isso. outros eu achei que tava perdendo a minha utilidade no mundo e que ia desaparecer se não fizesse alguma coisa relevante (e vai saber o que isso significa nos dias de hoje, né?).

acordei cedo sem saber porquê, me deixei dormir algumas horas a mais também sem entender o objetivo disso, saí de casa quando tinha que trabalhar, trabalhei quando sentia vontade de sair, encontrei mais trabalho pra fazer, percebi que tava viciada no Instagram, tentei diminuir o meu tempo de tela (beijo, iOS 12!), voltei a ler mais… sei lá, parece que uma vida inteira aconteceu num mês só e eu acabei de perceber que encontrei o que eu tava procurando:

leveza.

a gente se cobra tanto, o tempo inteiro, e a gente nem percebe o estresse que isso gera, o barulho mental que isso cria na nossa cabeça. eu falei sobre não postar todo dia, mas tava me cobrando igual quem posta, quem quer crescer e números e como a gente ganha do algoritmo e seguidores e trabalho e mais trabalho e pra onde eu tô indo que eu não sei e… ai, que canseira.

a verdade é que eu entendi que eu não sei como vão ser as coisas daqui pra frente, onde eu vou ser solicitada, o que eu vou ter que fazer e se eu nunca mais vou ter um dia de folga na minha vida, mas essa pausa foi tão, tão, abençoada e importante e incrível porque hoje eu consigo vir aqui escrever pra você com os ombros mais leves e os dedos mais calmos e um sorriso preguiçoso no rosto porque tá tudo bem.

e todo mundo sabe que eu tencionava o trapézio como ninguém.

você também, né?

relaxa esse corpo, menina!

e, olha, parece que eu tô falando sobre o blog, né? coisa doida, porque eu não tô. ele era só uma ferramenta que eu usava pra sentir umas coisas meio estranhas e criar mais uma Caixinha de Cobrança Mental™ na minha cabeça, e agora eu tô usando essa mesma ferramenta pra repensar as coisas e entender o que tô fazendo com isso aqui, sabe?

e, pensando bem, mesmo sem saber a resposta tá tudo bem fazer o que eu quiser fazer.

por exemplo, eu tava mesmo sem vontade de postar aqui e no Instagram e no Twitter e em todas as redes sociais. e tava querendo ficar mais de boa num sábado de manhã, sem ter que correr pra deixar post pronto. tava a fim também de mandar as newsletters direitinho. e de pegar uns trabalhos a mais por aí. também de sair pra tomar uns cafés gostosos, comer lámen sábado à noite e ir no cinema na tarde do feriado. sem pressão, não vou nem pensar em me culpar por isso.

(aliás, achei propício colocar pra tocar Take a Break, da trilha sonora de Hamilton, e editar esse texto com a Elisa cantando “take a break and get aaawwaayy” no meu ouvido.)

foi uma transformação e, agora, eu voltei a sentir vontade de escrever. e, veja bem, dito e feito, a ideia apareceu na cabeça, eu sentei em plena segunda à noite no sofá da sala, com uma das pessoas que mora comigo trabalhando na mesinha aqui do lado e a outra terminando de jantar ali na cozinha. só o som do meu teclado enchendo o ambiente e o soninho começando a bater pelo cansaço de um dia tão incrível.

pausas são legais. e não ter pausas também. depende do que cê tá querendo com isso, sabe? porque dá pra ficar de boa trabalhando sem folga, dá pra ficar de boa com muita folga, dá pra ficar de boa com folgas alternadas… mas dá pra se sentir mal de todo jeito também. e eu acho que tava meio desse lado triste da balança, sabe? usando uma rotina maluca pra deixar os ombros mais pesados e o estômago meio enjoado com tantos prazos.

agora… os prazos aumentaram, eu trabalhei o feriado inteiro, mas fiz vários nadas no último final de semana (em relação a trabalho, quero dizer), e percebi que dos dois jeitos tava tudo bem comigo e tanto faz se eu tô trabalhando ou exercendo o tal ócio criativo, eu quero mais é jogar essas toneladas de cobrança pra bem longe de mim.

vai com Deus, querida, não precisa voltar.

resumo da ópera… faz o que deixa o seu coraçãozinho em paz, minha gente. o mundo não vai deixar de precisar de você, porque a sua importância é muito maior do que alguns posts num blog, fotos no Instagram, relatórios entregues ou agenda de freelas.

ela é do mesmo tamanho que eu, e eu sou maior que o universo.

e o universo, vamos combinar, dificilmente tá preocupado se perguntando quantas metas você bateu no dia.

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Escrito pelaMaki
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19 Comentários
  1. Silmara  em dezembro 02, 2018

    Hoje foi um dia que escolhi para ser meu. Desde outubro (e o ano inteiro e por anos) estou em um ritmo mais intenso. Com vários prazos a serem cumpridos. Na última semana eu mal tive tempo para comer, a insônia surgiu, como há tempos não acontecia, a mente estava muito barulhenta. O resultado foi como eu esperava? Foi além! Mas há tempos não me sentia tão exausta, tão correndo contra o tempo. Houve planejamento? Sim…mas ideias foram surgindo e eu desejei colocar tudo em prática. Ontem a noite eu soube, desde outubro o que é ter a mente aliviada, o corpo todo dolorido de tanta correria finalmente pode ser envolto em um banho quentinho e repousar. Hoje acordei e coloquei algumas coisas em ordem por aqui, pequenas ações que me ajudaram a ter a sensação de controle, de volta a calma. Vim dar uma olhada no seu blog, como faço quando estou tranquila…e como foi bom!!!! É sempre tão bom!!!!! Não dá nem para descrever a paz que suas palavras me trouxeram. Obrigada! Hoje o dia é meu! Meu…para fazer o que eu tiver interesse…Férias daqui há duas semanas…respirando…bjsss

    • Maki  em dezembro 03, 2018

      aaaa Silmara, que delícia! mesmo <3 às vezes, é importante mesmo a gente dar esse passo pra trás e pensar de novo sobre o que tá fazendo e como tá fazendo, e o que vai deixar a gente mais em paz, com a mente mais quieta e o coração mais tranquilo!

  2. Jessie Faustino  em novembro 05, 2018

    Plena segunda-feira a noite e aquela passadinha marota no Desancorando. ❤
    Essas palavras eram (e é) tudo o que eu mais preciso ler e refletir nesse momento, mas sabe quando você está tão ansiosamente-eletrico que a única coisa que consegue pensar é: “não importa o que me digam, eu estou realmente fazendo do jeito errado”? Tenho me cobrado bastante desde… pensando bem, sou uma pessoa que me cobro sempre, justamente pelo que vc disse: a necessidade de ser relevante. Espero estar mais calma daqui a algum tempo e voltar aqui para reler esse texto, tenho certeza que ele me fará refletir ainda mais. ❤❤ Obrigada por esse seu jeito de nos fazer refletir sobre a vida.

    P.S.: no meu caso é não estar fazendo nada que me deixa pra baixo.

    • Maki  em novembro 08, 2018

      aaaa Jessie… eu entendo, mesmo. mas tem uma hora que a gente precisa mesmo dar um basta nessa cobrança, porque a verdade é: ela tá só na nossa cabeça. não tem ninguém fazendo isso com a gente, sabe? e isso é o mais louco, mas também a nossa salvação – é sinal de que dá pra mudar <3

  3. pree leonel  em outubro 30, 2018

    Eu tenho muita saudade de voltar a escrever, e tenho sentimentos muito parecidos com os teus. Vc tá sendo, sei lá, um bálsamo pra alma.

    • Maki  em outubro 31, 2018

      afe, que coisa maravilhosa ler esse comentário!

  4. Ana Lívia Queiroz  em outubro 30, 2018

    Eu já estava pensando sobre isso há um tempo. Com toda a pressa do mundo e FOMO, a gente esquece da importância ócio criativo. Estou tentando voltar pra ele aos poucos. Quando tenho que esperar alguma coisa, uma fila de banco por exemplo, parei de me desligar do mundo no celular e fico só pensando.

    • Maki  em outubro 31, 2018

      sabe que eu tenho tentado diminuir o meu tempo no celular também? percebi que essa coisa de pegar pra olhar é muito um condicionamento mesmo.

  5. Nessa  em outubro 30, 2018

    Nossa, que texto esclarecedor. Me sinto assim várias vezes – e culpada quando “estou de boas” e sem 300 coisas pra fazer, ou deixando de lado um pouquinho as coisas não tão urgentes assim. E minha ansiedade vai lá nas alturas, rsrs. Muito legal a forma como você transmite isso para os leitores.

    Um abraço e sucesso aí!

    • Maki  em outubro 31, 2018

      brigada, Nessa <3

  6. Mel  em outubro 29, 2018

    Realmente dar um tempo e fazer “nada” é inspirador. Você começa a esvaziar a mente e aquilo que você realmente gosta de fazer começa a fazer falta, em instantes temos “insights” maravilhosos, e de repente a mente borbulha com novas ideias, com novos projetos…
    Eu acho que já comentei por aqui… Mas o que talvez não tenha dito é o quanto amo o seu blog, o seu jeito de escrever…

    Só queria dizer eu sinto falta quando vc não posta com frequência. <3 Beijinhos

    • Maki  em outubro 31, 2018

      aaaaa Mel, entendo! mas eu percebi que a cobrança que tava me colocando não tava saudável mesmo. a boa notícia é que eu sinto que virei uma chave mesmo e espero postar mais vezes em novembro!

  7. […] – Pausas são legais […]

  8. Natasha  em outubro 25, 2018

    Eu era uma dessas pessoas que estava ansiosa com o sumiço aqui no blog! Mas olha… esse texto sobre pausa – tá tudo bem – o universo não tá preocupado com suas metas diárias veio muuuuuito pra mim, era o que eu precisava ler! Muito obrigada por usar seu dom com as palavras pra traduzir o que estou sentindo! Você é incrível! Beijão.

    • Maki  em outubro 25, 2018

      ahahahaha sua fofa! fico feliz que tenha gostado e que o post tenha ajudado <3

  9. Jess  em outubro 24, 2018

    Teu post foi tão relevante! <3 É engraçado como é paradoxal, né? Não fazer nada é TÃO importante e crucial pra gente entender o que é importante fazer! haha. A gente pausa e reflete o que verdadeiramente faz sentido em nossas vidas, principalmente em tempos tão saturados de coisas pra fazer, como você disse.

    Conheci teu cantinho recentemente e tô amando. É isso. Slow. Sem culpa, fazendo qualquer coisa com o desejo real do coração de querer fazer, mesmo que pareça uma banalidade.

    Beijo!

    • Maki  em outubro 25, 2018

      é isso, Jess! “fazendo qualquer coisa com o desejo real do coração de querer fazer”<3

  10. Claudia Hi  em outubro 24, 2018

    Obrigada pelos seus incríveis lembretes Maki. Você sempre me faz ver a vida de outra forma, e essa forma sempre me anima. Parece que dá um gás no meu dia, que tava meio murcho ♥

    • Maki  em outubro 25, 2018

      aaaaaaa eu amo tanto os seus comentários <3 <3 <3 não sei lidar, sério!