eu preciso falar com você sobre a Chel. ela é minha professora, mas o que ela me ensina vai muito além de supinos, manguitos e calistenia. além de pesos, alongamento de posterior da coxa e os músculos do ombro que eu trabalho quando faço um desenvolvimento na bola. todas essas palavras teriam zero significado pra mim (e ainda têm, de certa forma) se esse post fosse escrito há três anos, quando eu jurava morte às academias e não tinha noção alguma da minha própria força.
mas, se esse post fosse escrito há três anos, não teria a Chel. e nem brinca com essa ideia de não ter a Chel, menina, vira essa boca pra lá, dá três pulinhos, faz uma simpatia pra que ela nunca vá embora, porque pensar em dias sem que ela apareça no meu caminho ou corrija a minha postura durante um movimento parecem absolutamente perdidos.
ela é uma das pessoas mais amorosas que eu conheço. confesso que já tive medo dela, e achei que cara de durona fosse um sinal de que ela não gostava de mim (ou de qualquer outra pessoa), mas cinco minutos com ela me provaram não só o contrário como o quanto ela tá disposta a cuidar de mim, quando eu permito.
essa semana eu perdi um dos meus treinos no CT – o centro de treinamento físico lá da Coexiste – porque passei o dia num evento, e ia treinar só duas vezes, quarta e hoje. eu acabei nem comentando que tava no segundo treino (e não no terceiro, como o resto da galera), mas a Chel ouviu a conversa que eu tive com a Marina e perguntou se eu viria no treino de sábado. hummm, acho que não, viu, a preguiça tá falando mais alto desde já. calma aí, garota, eu vou fazer um bem bolado pra você treinar tudo o que precisa hoje. só não vai fazer as costas, se não você vai ficar dolorida demais.
eu juro por Deus que quase chorei bem ali, no meio dos pesos, das bolas e das barras paralelas.
vai fazer três anos que eu treino três vezes na semana no CT. aprendi muitas coisas ali. a pular corda. a usar o peso do corpo num exercício e a travar o abdômen na hora de fazer a flexão. aprendi como se faz um supino e a diferença entre a rosca direta e a francesa.
meu corpo mudou muito nesse meio tempo e agora eu consigo correr atrás do ônibus sem arrastar a língua no asfalto e subir a escada do prédio sem achar que o coração vai falhar. já fiquei dias dolorida por causa de um treino, descobri músculos que nunca soube que existiam e já precisei parar no meio do caminho pra casa porque as pernas tavam falhando de tão pesado que os exercícios tinham sido.
mas nada disso importa de verdade, porque o que a Chel me ensinou é que a confiança é a coisa mais preciosa que a gente pode ter. e ela confiou muito em mim, viu? confiou que eu faria flexões (‘se ficar pesado, faz com o joelho no chão‘), que eu faria o salto na plataforma (e me deu a mão quando eu senti medo) e que eu não me sentiria errada quando ela me pedisse pra corrigir a postura na hora de fazer o afundo.
entre tantos exercícios, ela perguntava sempre se tava tudo bem. se eu precisava de ajuda. ela me deu abraços quando eu não tava bem da cabeça, sentou do meu lado quando a pressão caía e eu ficava meio molenga, e me mostrou, de novo e de novo, que ela tinha uma confiança inabalável de que 1) tava tudo bem comigo e 2) eu seria capaz de fazer todas as loucuras que ela propõe ali dentro.
olha só, que doideira, pouco a pouco eu parei de duvidar que não conseguia e passei a falar que o peso tava leve demais, que dava pra fazer mais uma série (ou que não dava mais, e tudo certo), que eu precisava de ajuda e que eu não tinha entendido o que era pra sentir no exercício.
o que eu aprendi no CT eu comecei a levar pra fora também. o foco. a presença. o ‘presta atenção no que você tá fazendo, fia’. o ‘tá tudo bem?‘. e a certeza de que eu era capaz de muito mais do que eu imaginava. sendo honesta, a minha imaginação vai longe, mas nunca é tão boa assim, então eu não me achava lá grandes coisas.
quando o despertador toca às seis da manhã de segunda, quarta e sexta, a primeira coisa que me vem na mente é que a Chel tá me esperando pro treino. a gente vai sentar no colchão gigante do C.T, alinhar a mente, a meta, e passar a próxima hora treinando relacionamento (o corpo, de fato, é só uma desculpa).
eu preciso falar pra você sobre a Milene também. a Milene é minha professora também. nunca vi alguém acordar tão cheio de energia como ela, e as macaquices que ela inventa pra gente fazer no CT me fazem duvidar da sanidade dela na maior parte dos dias, mas ela confia que a gente consegue e eu confio na confiança dela.
a Milene vive falando que vai roubar o meu bullet journal (de tão bonito que é), não fica parada um segundo e faz umas caretas malucas quando a gente se olha durante o treino. mas ela é séria, viu? presta atenção em cada detalhe, cada movimento, corrige tudo direitinho e com muito carinho. ela, também, me ensinou que a minha capacidade é muito maior do que as minhas vãs ilusões, e que é muito legal quando eu topo fazer o que ela me mostra sem colocar uma parede chamada AI QUE MEDO DISSO na frente.
eu preciso falar pra você sobre o Dani. o Dani… pois é, ele também é meu professor. e, apesar de não dar mais os treinos da manhã (uma hora a mais de sono faz toda a diferença afinal), ele tá presente em cada abdominal que eu faço. tem Dani nas séries que a Chel e a Milene me demonstram, na ordem do que vai ser trabalhado primeiro. eu sei que tudo o que eu treino passa por ele antes, e ele tá ali, confiando em mim também.
logo eu, que jurava nunca pisar numa academia feliz e que pedi pra não ficar olhando no espelho no primeiro dia de CT, hoje sou tão apaixonada por aquele lugar que me dói o coração quando eu perco um treino. mas não é o lugar, né? eu posso fazer supino em outros lugares, abdominal idem. não tenho ideia de onde se faz calistenia, mas tenho certeza que encontraria um lugar por aí também.
ah, não. reduzir o CT a isso seria fazer o Gênio de novo e colocar poderes cósmicos fenomenais dentro de uma lampadazinha e não condiz. a conta não fecha. não tem nem como, o que acontece ali dentro é grande demais pra ficar confinado entre quatro paredes.
hoje, olhar pra Chel me deu vontade de chorar. porque eu cheguei pra fazer umas coisas estranhas com o corpo e fui amada. eu saí de lá mais preenchida do que quando entrei – e ele tá aqui ainda, viu? o preenchimento. porque ele é meu. a Chel me ensinou isso também.
no fim, isso tudo pode ser só um monte de palavras na tela de um computador, mas eu espero que você sinta daí o que eu tô sentindo agora. a gratidão por ter pessoas que confiam em mim o bastante pra esperar que eu me abra um pouquinho, sempre com a paciência mais paciente que eu já vi. entrar no CT é ser inundada de luz – e isso não tem nada a ver com os espelhos nas paredes e as lâmpadas fluorescentes. é deixar que a minha mente, antes sempre tão escura, se ilumine um pouco mais.
e eu levo o carinho da Chel comigo onde quer que eu vá. a alegria da Milene. o humor do Dani. eu precisaria falar pra você também sobre a Gaby, a Helena, a Marina, a Adriele, o Cesinha, o Marquinhos e todo mundo mais que treina comigo. mas algo me diz que todos eles vão se sentir muito bem representados por essas centenas de palavras escritas meio na pressa numa sexta de manhã, entre olhos úmidos e um coração… ah, sei lá. completo.
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14 Comentários
você é tão querida <3
você também <3
Ahhhhhhhh se mais pessoas soubessem o que gentileza e amabilidade fazem no coração e na vida de outras pessoas! Mas acho que só quem é cheio de amor é que pode compartilhar.
Criar laços e doar o que se tem de melhor pra o mundo faz toda a diferença.
Só energia boa é emitida ♥ Uma energia que estamos precisando muito.
Fico feliz que você esteja rodeada de gente feliz!
Por mais ternura ♥ Essa é a minha prece!
xero
por mais ternura <3
que texto lindo maki <3 certeza que as pessoas citadas se sentiram amadas do mesmo jeitinho que você ao escrever o texto <3
sentiram, sim <3 (e tenho mensagens de áudio pra provar!)
Que texto lindo!É maravilhoso mesmo quando alguém confia na gente mais do que a gente mesmo. Fazer parte de algo que nos motive a ser cada vez melhores é fantástico. Fiquei até com vontade de conhecer todas essas pessoas! Amo o seu blog. Beijos
se você puder, vem conhecer sim, Vanessa! a gente vai amar te receber <3
Oi Maki! Que texto lindo! Uma declaração de amor real. Reconhecimento é algo lindo de ver. <3
Eu sinto que falta estimular em mim essa parte estrutural que é o meu corpo físico. Tanto tempo no home office, tantas coisas enchendo a cabeça que me faz pensar que precisava colocar o corpo em movimento pra mente acalmar. Só tem me faltado coragem. Mas, vamos ver se eu a encontro. 🙂
Beijos e até.
Lay.
http://www.um-traco-qualquer.blogspot.com
Laysla, quando a gente entende que o nosso corpo é uma ferramenta que tá a serviço de uma meta, não tem como a gente não querer cuidar dele com carinho, sabe? acho que foi isso que me motivou a entrar no CT e foi esse reconhecimento que faz continuar nele <3
O seu amor pelos outros me transborda, Maki. Te acompanho há um tempo, nunca tinha parado pra comentar (eu sei, eu sei… mil desculpas), mas esse post me emocionou. De verdade. Aquela emoção que dá um quentinho no peito e faz o dia valer a pena. Obrigada por mostrar o bom do mundo e se dedicar tanto às pessoas. Você muda o mundo! ♥
Sabrina, juro pra você que ler o seu comentário me deu vontade de chorar. porque essa é a minha meta, mudar o mundo, e saber que eu tô conseguindo me mantém firme nesse caminho. brigada por isso <3
Meu professor ou Mestre. Meu mestre de TKD, ele me proibiu de usar a palavra “não consigo” dentro do tatame dele. Achei que era um gênio forte o dele. Pô ele não tá vendo que eu não consigo? NÃO DÁ. NÃO CONSIGO.
ele :
ãrrã faz logo!
eu :
deve ser de aries.
Não é que depois de meses eu não consegui de verdade ?!
Ele sempre soube que eu acreditaria, e quando eu comecei a parar de falar que não conseguiria eu consegui
Eu até anotei isso no meu bujo em junho “proibido dizer não consigo no taekwondo”.
Consegui.
Sei como é esse lance de ver pessoas que te ensinam a ter confiança. .
nossa, miga, SIM! é isso mesmo. a gente fica colocando bloqueios pro aprendizado, sabe?