amorzices: vamos panfletar todo mundo também

quando eu escrevi sobre o primeiro livro do infinistante, Mostre Seu Trabalho, o que me deixou mais chocada foi a minha falta de motivação pra panfletar a mim mesma. aquela coisa de ‘ei, olha aqui o meu blog, eu escrevo uns textões, mas acho que é bem legal e pode ser que você goste‘. sabe do que eu tô falando, né?

pois então. dia desses eu, a Lominha e a Mel nos deparamos com uma situação meio delicada. uma pessoa claramente se inspirou em outra para fazer um vídeo incrível, mas não citou em nenhum momento de onde veio essa inspiração, essa referência.

num mundo ideal, as pessoas sabem exatamente quais são as suas referências e quem te inspira só de prestar atenção no seu trabalho. mas a gente bem sabe que as coisas não são assim, né? e com o tanto de algoritmos, redes sociais e distrações por aí, fica meio difícil a gente lembrar desse tanto de informação que recebe todo dia, o dia todo.

ainda assim, a gente ficou se perguntando porque as pessoas têm tanta dificuldade em falar quem é que as inspira, sabe? por um lado, eu meio que entendo… acho que a gente ainda tem na cabeça essa ideia de que falar dos outros pode acabar com o nosso próprio sucesso ou tirar a atenção da gente. como se a gente estivesse perdendo alguma coisa. (ao qual eu te lembro muito enfaticamente que a internet é um mundo gigantesco e que tem espaço pra todo mundo, sim senhor)

essa é uma visão muito ‘só vejo o meu umbigo‘. tipo, você acredita mesmo que as pessoas vão parar de gostar de você se contar pra elas quem são as suas maiores inspirações? e, olha, eu não tô dizendo que nunca pensei isso na vida. você sabe que sim. aquele medinho de que ninguém vai gostar de você se descobrir alguém que é ‘mais legal‘.

quando a gente fala de internet, tá todo mundo querendo um espacinho – mas acho que mais importante do que isso, tá todo mundo querendo ser reconhecido pelo próprio trabalho. e é por isso que a questão dos créditos é um assunto tão discutido por aí. e vamos combinar, né? se eu fiz uma coisa legal, que as pessoas gostaram, que elas divulguem o que eu fiz ou, no mínimo, digam que se inspiraram em mim quando fizerem algo parecido, né?

parece tão óbvio… mas essa nossa necessidade de falar mal da gente coloca todo mundo num lugar de ‘eu vou me preocupar só com o meu‘. cada um que se vire, eu tenho que matar os meus próprios leões todos os dias. e pra isso, eu só posso cuidar do meu, pensar no meu. meu meu meu meu meu. e se eu usar o material de outra pessoa? ah, problema dela, eu tenho mais é que cuidar de mim.

percebe como essa é uma visão pequenininha de uma coisa enorme? tem todo um contexto rolando e o mais legal da internet é esse senso de comunidade – de uma pessoa ajuda a outra que ajuda a outra que tuíta por aqui que posta no Facebook de lá que coloca as referências na discrição do YouTube e que diz de onde tirou uma ideia. não é difícil e, eu garanto, não morde.

eu fico pensando que tem tanta coisa legal por aí, mas esse nosso desleixo com os outros deixa o mundo todo mais triste. porque alguém sai magoado dessa história, sabe? isso não é pensar no todo. é pensar só no seu próprio umbiguinho esperando a sua recompensa por usar o trabalho do outro.

o Austin fala muito em Roube como um Artista (ainda não panfletei esse livro esse mês, né?) sobre como existem tipos de roubos que são ‘bons‘ e ‘ruins‘. um bom roubo é aquele que você usa como referência de estudo, em que se inspira e que ajuda o seu trabalho criativo a crescer e evoluir. e enquanto você trabalha, você reconhece essas referências, toda essa bagagem criativa incrível que você encontrou por aí e agradece pela jornada dessas pessoas. o roubo ruim é aquele que você pega um negócio legal, toma como seu e saí por panfletando como se nenhuma outra pessoa tivesse participado disso com você. é o pensamento macro vs. o micro, entende?

o Twitter fala tanto sobre dar os devidos créditos, porque, às vezes, a pessoa que fez aquela ilustra incrível tá tentando ganhar a vida com os desenhos que ela faz. mas vivem publicando a arte dela por aí sem falar quem fez, e ninguém sabe que é ela que tem esse trabalho incrível. alguém faz uma foto super lindona pra ilustrar um post e as pessoas usam como se fossem delas, sem pensar que teve todo um cuidado em escolher os elementos pra cada imagem, em esperar a melhor luz e fazer 37 fotos pra usar uma só no post final e outra no Instagram.

dar crédito pras pessoas é ser carinhoso. falar quem te inspira também. a internet vive de referências, é um arquivo de furtos infinito, e essas referências a gente não descobre assim, do nada. alguém tuitou, comentou, você achou numa busca, viu num relacionados da vida, esbarrou por acidente numa conversa com um amigo… mas a gente insiste em achar que falar sobre isso é errado e que dar audiência por outro é acabar com a sua.

a Mel me inspira a cada segundo com as fotos incríveis que ela posta, e os vídeos dela também têm me inspirado a fazer os meus. a Lominha tem uma visão sobre produção de conteúdo que é maravilhosa, e eu não me canso de beber da fonte inesgotável de conhecimento que ela tem sobre o assunto (fora as ideias maravilhosas, né?). a Aileen Xu me ensina muito sobre muitas coisas. a Dudinha é uma baita inspiração de bullet journal. e tem mais um milhão de referências que eu tenho feito questão de citar sempre que possível.

porque dizem por aí que nesse mundo nada se cria, tudo se copia.

mas a verdade é que tudo se inspira, né? a gente vê uma coisa legal e pensa NOSSA VOU TENTAR TAMBÉM. daí alguém vê o que você fez e pensa a mesma coisa e assim por diante num ciclo eterno de coisas incríveis se inspirando, numa retroalimentação sem fim de coisas maravilhosas na internet e no mundo.

referências são importantes porque mostram de onde a gente veio e pra onde a gente tá indo – e é legal dar aquele salve pra quem nos emociona. afinal, eles tão tentando ser reconhecidos tanto quanto a gente. dar créditos é importante. pode ser que alguém dependa disso pra pagar as contas. ou que esteja trabalhando tão duro que fica chateado quando percebe as pessoas usando o seu trabalho sem pedir antes. tem espaço pra todo mundo, gente, não precisa querer guardar tudo pra você, viu?

compartilhar é isso – é mostrar pra todo mundo o que faz a gente se sentir bem, o que ajuda a gente a crescer e a ficar mais inspirado. tem. espaço. pra. todo. mundo. mas pra isso dar certo a gente precisa lembrar que a internet é uma comunidade que só caminha junto se a gente lembrar uns dos outros.

você pode fazer parte dessa blogagem coletiva com a gente. o amorzices é um projeto mensal, publicado todo dia 15, criado pelo trio amorzinho Sernaiotto + Serendipity + Desancorando e que terá um tema de base: amor. a partir daí, a gente vai falar sobre um monte de coisas. o tema de março é 'fale sobre quem te inspira'. então, faz um post no seu blog e deixa o link nos comentários pra gente ver também, tá bom?