inspiração

segunda passada foi um daqueles dias que os estagiários do universo exageraram na dose. pra todo lado que eu olhava era um sinal diferente me contando uma coisa. o quê, exatamente, não importa. este post é sobre a sensação por trás, sabe?

se depender de mim desancorando

eu fui tomar café da manhã com a Helena logo cedo, depois do treino, e dali pra frente o meu dia foi uma sucessão de coincidências nem um pouco coincidentes sobre como a gente coloca o sarrafo lá em cima pra fazer qualquer coisa e depois reclama que não alcança a meta.

curiosamente, tava com dificuldade de escrever esse post e coloquei pra tocar Cananéia, Iguape e Ilha Comprida, minha música favorita do álbum novo do Emicida e que coroa maravilhosamente esse dia por me lembrar, mais uma vez, do que eu tô fazendo aqui.

“escrevo como quem manda cartas de amor”, é o que ele diz.

pois é. eu escrevo como quem manda cartas de amor, mas fico dizendo que não. que se depender de mim as coisas não saem do lugar… melhor deixar nas mãos de outra pessoa, coloca na conta do Papa – já diria capitão Nascimento -, porque a minha já tem coisa demais. deixa que o outro faça, deixa que ele termine, deixa que outro alguém pegue no ar essa ideia genial e transforme em alguma coisa incrível pra eu ver daqui uns anos e me amargurar pensando no que poderia ter sido.

deixa pra lá, pra depois, pra nunca mais. escolhe outra pessoa, comigo não vai dar. eu não consigo, não posso, não quero. prefiro não. se depender de mim… já viu.

é a cultura da desconfiança manifestada. eu não confio em ninguém. nem no governo, nem no vizinho, nem em você, nem em mim mesma. principalmente, em mim mesma. especialmente em mim mesma. segundo a minha própria cabeça, o que eu sou deixa a desejar demais pra ser digno de confiança.

a má notícia é que eu poderia continuar esses parágrafos auto-depreciativos por muito, muito, muito tempo. é fácil demais falar mal de mim mesma e do mundo e me manter parada no mesmo lugar, esperando a solução divina cair no colo (e, convenhamos, é fácil não querer vê-la ali).

mas a Helena é tão sábia quanto eu e, papo vai, papo vem, me lembrou que se depender de mim, tá feito. se depender de mim, tá pronto. tá garantido. tá valendo. eu fiquei meio chocada e vi minha mente fazendo um duplo twist carpado tentando entender como isso é possível. confiança, que chama.

porque, sim, de fato é fácil demais continuar garantindo que eu não tenho capacidade de fazer o que eu sempre sonhei porque eu não sou digna de confiança mesmo, então pra quê tentar?

a boa notícia é que, tal qual Diane dos Santos, eu cai de pé no canto do tatame com a postura intacta e um belo sorriso pras câmeras. porque a única pessoa que pode mudar essa postura derrotista sou eu mesma. se depender de mim, tá feito, sim. claro que tá. olha só pra mim! eu consigo muito mais do que imagino.

continuando a sequência de coincidências absurdas, eu tava escrevendo minhas páginas matinais antes de dormir (sim, é isso mesmo) e caiu de dentro do caderno umas anotações que fiz milênios atrás junto com a Gabs e que dizia algo assim: “você não precisa fazer algo grandioso, só precisa estar lá”. complicado quando você faz questão de se retirar de cena e se esconder nas coxias, né?

mas, sim, eu só preciso estar lá e começar pequeno. passinho de formiga. uma coisa aqui. outra ali. não preciso mudar o mundo inteiro num piscar de olhos, mas eu posso começar com um post num blog. os revolucionários do sofá que me abracem, porque dá pra mudar o mundo de dentro de casa, desde que você tope mudar a si mesmo primeiro. o que você pensa. mudar de casa interna.

aliás, chama aí o carreto e me empresta um pouco de plástico bolha, já tá tudo encaixotado por aqui, mas tem algumas partes sensíveis e seria importante mantê-las intactas. pelo menos até a poeira baixar e a tinta das paredes novas secarem.

pra terminar, o Austin Kleon, essa pessoa maravilhosa que um dia eu ei de conhecer pessoalmente, lançou uma newsletter na outra sexta que eu só vi segunda e tinha um texto do blog dele que era também a chamada do e-mail. dizia o seguinte:

comece antes de achar que você está pronto.

eita, universo, chega, né? eu já entendi. tá bom, tá bom, já comecei. se depender de mim, já viu… tá feito. tá pronto e tá lindo. missão dada é missão cumprida e tudo mais.

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Escrito pelaMaki
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