cotidiano

outro dia, me senti sozinha. acordei chorando sem motivo e me peguei desamparada. na minha cabeça, eu só pensava em me machucar. tropeça aqui. bate ali. ai, se essa faca escapasse um milímetro que fosse… eu pensei na morte, e a minha garganta fechou. eu estava sufocando.

para quem vive numa redoma de amor e carinho, um momento de tristeza que seja parece um tsunami. a gente acha que vem sem avisar, de repente. mas os sinais estavam todos lá. a água começou a recuar. os pássaros voaram na outra direção. o mar ficou estranhamente calmo. para um olhar atento, estava tudo perfeitamente mapeado. pros desavisados, a violência da água parece um golpe de má sorte. eu tava no lugar errado, na hora errada, só isso.

o céu azul ficou cinza. e eu só consegui olhar pra dentro da minha própria cabeça, procurando uma saída. sem sucesso, tudo ali me levava pro mesmo lugar. pro desconforto, pra solidão. eu me senti perdida de novo e um dia pareceu uma eternidade. quando a gente não tá bem, nada caminha do jeito que deveria e a gente fica brigando sem sair do lugar. parece areia movediça.

eu não conseguia me concentrar no que tinha pra fazer, escrever virou um sacrifício. parecia sem sentido colocar palavras no papel, fazer reuniões, medir audiências, conversar com pessoas. tudo o que eu queria era ficar encolhida na cama. no aconchego das minhas cobertas. não foi uma surpresa perceber que nem todos os cobertores felpudos do mundo conseguiam aquecer o meu corpo gelado. cadê a motivação que tava aqui? sumiu, junto com uma enxurrada de pensamentos horríveis sobre mim mesma. um tsunami de tristeza, uma condenação eterna e suas punições mais que necessárias. eu errei, falhei, pequei. e agora é pra valer. não tem mais volta desse fundo de poço.

mas aí… veio um abraço, e eu comecei a me lembrar de como é bom viver no aconchego, quando a gente sabe exatamente quem a gente é e o que veio fazer no meio de tanta gente confusa. a mente desanuvia, as pesadas nuvens que cobriam o sol começam a se dissipar e a sumir aos pouquinhos, já sem um motivo para chover.

num abraço, vem também um beijo. e a coisa toda fica ainda mais leve. eu sou lembrada, com um gesto de carinho, do quanto eu sou inocente e que os meus pecados não passam de imaginações e devaneios da minha mente atormentada. tá tudo bem comigo, nada aconteceu e tudo segue exatamente como sempre foi. eu nunca fui capaz de mudar o que o amor criou, afinal.

junto do beijo, vem as palavras gentis. palavras essas que reforçam o que já foi mostrado em gestos e que me fazem pensar, novamente, no quanto eu sou amada. só o amor cura o coração que dói, que bate descompassado e cheio de medo de um futuro que nunca aconteceu e de um passado que a gente faz questão de remoer na cabeça todos os dias.

mas, Maki, você não tem dias tristes, então? o que seria um dia triste, se não um erro de visão? aliás, o que é ser triste? o que é sentir tristeza? se é o tipo de coisa que me deixa longe de mim, então: não, obrigada, troco todos os dias tristes do mundo por aqueles regados a xícaras de chá quentinhas e mãos entrelaçadas. eu desisto de dias tristes, porque sei que eles não fazem parte de mim.

se eu acordar esquecida, que eu me lembre do caminho de volta e que leve junto comigo os meus parceiros de jornada, sempre tão felizes em me ajudar a colocar a mente de volta no céu.

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Escrito pelaMaki
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1 Comentário
  1. Silmara  em agosto 13, 2017

    Mais um texto carregado de sentimento e que pode fazer muitas pessoas se identificarem. Que bom que veio o abraço, o beijo e as palavras gentis!!!! Que venham sempre que for necessário…um abrigo contra o temporal. A vida atualmente é assim mesmo, não podemos perder a esperança de dias melhores, e aquela vontade de se levantar, e levantar mesmo sem vontade, por nós e por aqueles que nos lembram quem somos e que somam… FORÇA!!!!!