cotidiano

foi no dia 24 de fevereiro do ano passado que eu tomei a última dose de antidepressivo e terminava uma jornada de um ano de tratamento para depressão. eu recebi alta. eu comemorei no Twitter. eu ri muito. eu fechei um capítulo, virei a página e segui em frente.

hoje, pouco mais de um ano depois disso tudo, eu olho para trás e penso ‘meu Deus, como é possível eu ter pensado tão mal de mim algum dia?’. na verdade, eu sei bem que é possível, eu sei que é comum e sei que tantas outras milhares de pessoas tão fortes quanto eu já passaram por isso algum dia ou ainda vão passar. para muitas, a depressão é uma nuvem cinza que fica pairando sobre a sua cabeça e nunca vai embora. para mim, essa nuvem virou chuva, evaporou e deixou só o sol e o céu azul para que eu admirasse ao meu bel-prazer.

pensei muito sobre isso essa semana, porque algumas pessoas comentaram que gostariam que eu falasse mais sobre depressão no blog. foi incrível olhar para trás e ver como essa fase, apesar de passageira, foi tão importante para me colocar no caminho que eu estou hoje e só o que eu consigo sentir por tudo o que eu passei é a mais profunda gratidão.

de lá para cá eu me tornei outra pessoa. hoje, eu sinto que jamais conseguiria voltar para o mesmo ponto que há dois anos e nunca conseguiria pensar novamente as mesmas coisas sobre quem eu sou. eu já sei o suficiente para entender (e praticar) que o que eu sou não muda e que pensamentos são apenas pensamentos.

a depressão não significa nada para mim.

a gratidão que eu sinto pelos momentos em que me vi perdida é a mesma que sinto agora que me encontrei. e a mesma que eu treino ver toda vez que encontro com as pessoas que eu amo, quando trabalho, quando durmo e quando acordo. talvez a diferença mais marcante de todas é que hoje eu amo acordar e antes eu preferia dormir para sempre.

lembro de pensar que morrer era a melhor solução (e esses pensamentos de vez em quando tentam chamar a minha atenção, sem sucesso). que eu não era importante. que não era amada. que não era digna de receber ou dar amor. que não merecia coisas bonitas ou ser feliz. que não merecia a alegria.

lembro vagamente de sentir um buraco no peito que não tinha fundo, de não enxergar as cores, de chorar sem motivo e de não saber o que estava acontecendo. lembro de me sentir vítima, de achar que o mundo inteiro estava contra mim e de ficar muitas horas trancada no meu quarto. lembro de não conversar com ninguém nos finais de semana, de dormir chorando e de despertar desejando não ter despertado nunca.

dizer que essa foi uma fase triste seria óbvio. dizer que ela foi ruim seria mentira. ela foi de extrema importância para o meu processo de autodescobrimento, de retorno ao lar, mas não foi mais importante que todas as outras coisas que me aconteceram ao longo desses meus aninhos na terra.

sigo acreditando que não estava doente e que o remédio não era a salvação da minha vida, mas uma ferramenta essencial para me ajudar a sair do ponto mais fundo em que eu me lembro de já ter estado. sigo acreditando, também, que essa fase só existiu porque eu fiz escolhas que me levaram até ela. e que tá tudo bem, foram escolhas perfeitas que me trouxeram até aqui. os meus pés seguiram o caminho que precisaram seguir para que eu lembrasse que só o amor salva e que eu não sou errada. nunca fui, nunca serei. nunca errei, nunca errarei.

é isso mesmo. a depressão não significa nada mais. para mim, no meu coração, eu consigo perceber com alegria que eu não vou levar mais esse assunto como um trunfo da minha vitimização e que essa fase ficou para trás tanto quanto qualquer outra.

hoje, ainda bem, eu me lembro desses momentos apenas como uma ferramenta, uma forma de mostrar para você que passa por isso agora que tem saída. porque tem. é só a gente querer ver. eu jurava que não passaria dos 27 anos, e dizia aos quatro ventos que as pessoas precisam ‘cuidar de mim’ porque a minha depressão me incapacitava. hoje eu já sei que não é assim (e, de novo, ainda bem).

eu olho para quem sente as mesmas coisas que eu sentia com esperança: você consegue sair dessa também. no fundo, tá tudo bem com você. a gente se confunde com as ideias às vezes e precisa de um lembrete que nos leve de volta para o lugar que conta quem a gente é de verdade. eu espero, sempre, ser essa lembrança para você.

quando eu mais precisei, eu pedi ajuda. e pedi de novo. e de novo. e chorei. e pedi de novo. até que me senti forte o suficiente para não pedir ajuda achando que isso era um pecado, mas só pensando em como é bom poder contar com outras pessoas quando eu preciso lembrar que eu sou, eu existo e eu sou boa. pode contar comigo, viu? prometo não falhar e ensinar o que um dia me ensinaram também.

você é. você existe. você é boa. e tá tudo bem.

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Escrito pelaMaki
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7 Comentários
  1. Agna  em julho 11, 2017

    Sinto que este texto, de todos os que já li, é o que melhor representa o que é a depressão. Identifiquei-me muito! Força para quem ainda está a passar por tudo isso 🙂

    • Maki  em julho 12, 2017

      força ♥

  2. Daniele  em maio 28, 2017

    Nossa! É tão bom ler texto assim de recomeços, de nova vida… de pessoas que conseguiram superar as dificuldades e hoje vivem, não apenas existe nesse mundo. Imagino como foi difícil a fase que você passou quando estava em tratamento, esse medo de não passar dos 27, de se sentir sozinha e incapacitada. Mas, Deus faz força na fraqueza e mostra que para tudo existe uma solução. Fico feliz por hoje você está bem, e contar tudo naturalmente. Que você continue assim moça.

    • Maki  em maio 29, 2017

      Dani, brigada pelo seu comentário! e, na real, não é que eu tenho uma nova vida, eu só aprendi que a vida estava lá o tempo inteiro, eu é que não estava vendo. pra mim, isso foi o mais importante. e falar sobre isso vem natural mesmo, porque eu sei que pode ajudar alguém que tá no mesmo lugar em que eu estive um dia, né?

  3. Nana  em maio 27, 2017

    Que bom que teve alta e seguiu sua vida bem!
    Bj e fk c Deus.
    Nana

  4. Brenna  em maio 26, 2017

    Que emoção ler teu relato. Estou 5 anos lutando contra a depressão e TAG, a força aindanão brotou em mim.
    Mas a cada palavra sua eu sentia a esperança de um dia dizer algo semelhante.

    Luz sempre.
    Gratidão 🙏

    • Maki  em maio 29, 2017

      Brenna, acredita que você vai falar isso também um dia. eu acredito em você ♥