cotidiano

foto: Cassio Crow Fotografia

quando eu estava na escola, eu lembro de fazer cadernos e mais cadernos de resumos dos textos que eu lia, tudo pra estudar mais e gravar melhor as coisas que eu aprendia em sala de aula. eu tinha uma veia perfeccionista bem forte naquela época, e lembro de, mais de uma vez, começar todos os meus cadernos do zero, passar tudo a limpo de novo, só pra ficar mais bonito, só pra tudo sair direitinho, do jeito que eu queria.

começar de novo parece sempre uma boa ideia. joga fora, descarta, recomeça, faz de novo. agora vai. dessa vez vai ficar melhor, dessa vez eu acerto. já tive essa sensação de erro várias vezes ao longo da minha história, com coisas diferentes. eram os cadernos da escola, o meu guarda-roupa, os blogs que eu escrevia, a minha vida. sim, cheguei a pensar que se eu morresse e começasse de novo, as coisas seriam diferentes, que tudo daria certo dessa vez.

talvez na próxima vida eu não seja tão introvertida, talvez não seja tão tímida, talvez faça mais amigos. talvez arranje mais namorados, talvez eu passe de primeira na faculdade e tenha um relacionamento melhor com os meus pais.

pouco a pouco, eu tô entendendo que começar de novo não é a saída. não quando a gente continua sentindo as mesmas coisas e pensando do mesmo jeito, tomando as decisões toda vez com a mesma base… tudo continua igual. pode até ser que o cenário pareça diferente, mas o seu coração vai sentir as mesmas coisas, de novo e de novo. não é desesperador pensar que se você não mudar a base de tudo, nada muda? você sempre vai acabar sentindo a mesma coisa. a folha nunca está em branco, o caderno nunca é novo e não existem lápis que nunca foram apontados.

não dá pra começar de novo quando você já tomou inúmeras decisões sobre você mesma e descobriu qual o jeito que você prefere olhar pra si. desse lugar, nada é novo mesmo, porque tudo vai responder a um ideal que você criou na sua cabeça, cheio de condiciamentos e pequenos vícios que passam despercebidos até quando você levanta da cama e pisa no chão primeiro com o pé direito.

não, desse lugar, é impossível começar de novo, voltar pro ponto de partida, refazer tudo o que você já fez na vida esperando um resultado diferente. não tem como o resultado ser outro se as suas premissas continuam sempre iguais.

é verdade que todo dia é uma oportunidade de fazer diferente, que cada segundo é uma dádiva porque oferece pra gente uma nova visão do mundo. a questão é que a gente continua escolhendo ver sempre da mesma maneira e, desse jeito, não tem como 2+2=5. a conta não nunca fecha.

o segredo, então, está em talvez deixar de lado essa vontade de fazer de novo e só buscar por um fazer diferente. se não dá pra começar do zero, então dá pra seguir um caminho diferente do que eu segui até agora. e se esse caminho existe, então eu abro mão de tudo o que eu penso em troca da certeza de estar na estrada de tijolinhos dourados.

é uma mudança de foco, entende? a gente passa a vida inteira pensando que gostaria de começar de novo, mudar de vida e fingir que o passado nunca aconteceu. mas, ainda assim, a gente faz questão de contar pro mundo sobre as nossas cicatrizes.

pode não ser possível recomeçar de verdade, mas a gente é mais do que capaz de mudar de foco, de olhar pra vida que a gente tem e escolher por ela todas as vezes. olhar pra verdade sobre quem a gente é e ter certeza de que estamos no caminho certo, não importa o que a gente faça no meio da estrada – não importa, nem mesmo, o tempo que a gente leva para chegar até o final.

o ‘começar de novo‘ é só mais uma historinha que a gente conta pra si mesmo, na esperança de acordar uma outra pessoa no dia seguinte. não duvido que isso seja possível, mas é preciso, antes de mais nada, decidir parar de olhar para o que não é verdade. primeiro a gente ajusta o foco, depois faz o que precisa fazer. mesmo que seja continuar usando o caderno todo ferrado e com a espiral quebrada. se a gente olha pra verdade das coisas, esse ponto, esses pequenos detalhes, nem importam mais.

desse lugar, tudo o que importa é seguir sendo o que a gente já é. mas só aproveitando o gostosinho da vida e agradecendo por cada novo segundo que a gente tem, sem se preocupar em começar novo. pra quem colocou o foco no que é, recomeço nenhum traz felicidade. é só mais uma brincadeira, só mais uma tentativa vã de char no mundo o que tá bem guardado no nosso coração.

Compartilhe!
Escrito pelaMaki
Deixe seu Comentário!


Warning: Undefined property: stdClass::$comments in /home1/desan476/public_html/wp-content/themes/plicplac/functions.php on line 219
18 Comentários
  1. Luma  em março 30, 2017

    Que coisa maravilhosa! Nossa, eu precisava tanto de um texto assim para refletir sobre meus impulsos… Obrigada por acariciar meu coração.
    Beijos!

    • Maki  em março 31, 2017

      brigada você por se permitir receber esse afago no coração <3

  2. Renata Rodrigues  em março 29, 2017

    Primeiramente queria dizer que amo seu espacinho, sinto-me abraçada td vez que passo aqui.
    E, em segundo lugar, obrigada por esse texto maravilhoso! Estava precisando de um gás e de alguém pra me fazer enxergar que não basta eu ter a ideia de querer mudar se as atitudes não partirem de mim. Até pq se eu não fizer por mim, ninguém mais vai fazer, ne?
    Obrigada, de coração, Maki ❤

    • Maki  em março 30, 2017

      isso mesmo, Renata. as coisas só mudam, se você decidir mudar e agir de acordo, entende? fico feliz que o texto te ajudou, brigada ♥

  3. Jéssica Teles  em março 29, 2017

    Me identifiquei com cada palavra.
    Como não percebi que esse sentimento de “recomeçar”, ou como gosto de dizer, me reinventar, me acompanha – e me trava – em tudo que faço?! Se eu começo a escrever em uma folha e não fica bonito eu rasgo e começo de novo. Quando eu lidei com a depressão achava que tudo aquilo que me levou àquele sofrimento precisava ser apagado da minha história. Como se eu fosse ser feliz de verdade se estivesse com uma “vida bonita”, sem os erros que me magoaram, mas como eu li também essa semana, os erros que apesar de tudo, me trouxeram até aqui.
    Apagar o passado consequentemente apaga quem você é. A questão não é começar do zero, é mais difícil sim, é começar de onde está. Obrigada, de novo, por esse texto! <3

    • Maki  em março 30, 2017

      brigada você por esse comentário lindo, Jéssica ♥

  4. Adriana Luciano  em março 16, 2017

    Nossa como seu blog veio num momento certo pra mim, encontrei este blog procurando um artigo de como fazer detox das redes sociais, justamente porque estou numa crise, de querer mudar para se sentir melhor!! Parabéns continue escrevendo lindamente, vc eh inspiradora :)!

    • Maki  em março 22, 2017

      obrigada, Adriana! você também é! ♥

  5. Ana Bonfim  em março 08, 2017

    Maki, já disse o quanto amo seus textos e o quanto eles são inspiradores pra mim né? Hoje vim lhe mostrar a prova disso: já fazia um tempo que não estava satisfeita com meu blog, com vontade de excluir e começar outro do zero, mas olhava os posts antigos e percebia o quanto aquilo era sobre quem eu era, e começar de novo ia fazer com que eu perdesse algumas coisas… e então bummm, li esse seu texto e ele me ajudou a decidir que não ia começar outro blog não, então eu decidi reformulá-lo, troquei o nome, o layout alguns detalhes que no outro não estavam me agradando. Mas o conteúdo continua todinho lá, a essência é a mesma.

    Obrigada de novo por ser quem você é e inspirar os outros a serem eles mesmos.

    Beijinhos, Ana.

    • Maki  em março 12, 2017

      ahhh, Ana, como você é fofa! que bom que os meus textos te ajudaram com isso. eu fico muito feliz mesmo ♥

  6. Marta Arruda  em fevereiro 18, 2017

    Verdade Maki, “… recomeço nenhum traz felicidade”. Ficar passando a vida a limpo o tempo todo não dá, se prender a tanta “perfeição” nos impede de viver outras coisas, outros momentos prazerosos, de conhecer pessoas bacanas e de sorrir sem motivo. E a vida é isso: períodos de altos e baixos, de erros e acertos, de desilusão e de encantamento. Focar no que realmente importa na vida e não levar tudo a sério.
    Belo texto!!
    bj

    • Maki  em fevereiro 20, 2017

      exatamente, Marta! é isso mesmo! 🙂

  7. Dani  em janeiro 28, 2017

    Meu Deus, acho que somos gêmeas! Cansei de arrancar páginas e ficar com o punho doendo de reescrever cadernos. Já pensei, inclusive, em recomeçar a vida com uma nova identidade em algum outro país. O perfeccionismo é realmente cruel.
    Amei seu texto (e o blog, que conheci agora).

    • Maki  em janeiro 30, 2017

      ele é demais. a boa notícia e que tem uma saída pra isso, né? se não a gente ficaria eternamente nesse ciclo de apaga e começa de novo!
      brigada pelo elogio e volte sempre, tá?

  8. Angélica Endo  em janeiro 25, 2017

    uau! me fez refletir sobre as diversas vezes que pensei: “amanhã vai ser diferente, amanhã vou começar do zero” e uma semana depois já estava caindo nos hábitos ruins. 🙁
    o importante é focar em algo e seguir em frente (do presente, do agora).
    amei! ^-^
    beijos.

    • Maki  em janeiro 30, 2017

      exatamente, Angélica! foca no presente, no agora, e segue adiante! cada segundo é uma oportunidade de você fazer diferente e sair dessa loucura de querer começar de novo!

  9. Daniela Carvalho  em janeiro 25, 2017

    Nossa, Maki!
    Me identifiquei tanto com seu texto e principalmente com o fato de quando eu era criança, eu também refazia minhas lições, deixava tudo perfeito, reescrevia e não tinha preguiça de fazer outra vez, mas aí a gente cresce e essa “técnica” não funciona mais pra vida real.
    E mesmo que as vezes as coisas andem cambaleando é sempre importante levar apenas o que foi bom.

    ps: adorei o novo visual do seu blog.

    • Maki  em janeiro 30, 2017

      não é? eu também penso assim. ao invés de tentar fazer o perfeito segundo o que a gente acha que é perfeito, o melhor é pensar sempre no que existe de bom e verdadeiro no que a gente tá fazendo. e daí seguir em frente ♥