cotidiano

eu sempre me considerei uma pessoa razoavelmente realista, até o dia que percebi que de realista eu não tinha absolutamente nada. de fato, a minha enorme predisposição para imaginar milhares de coisas diferentes eram a maior prova de que eu vivia, mesmo, no mundo da lua.

vivia tanto lá no alto que nem percebia que os ideias que eu criava pra mim não eram um incentivo. não eram coisas legais que me motivavam a ir em frente e conquistar o mundo como eu achava que ele deveria ser conquistado. não, era um quadro do Picasso quando eu mal conseguia fazer bonequinhos de palito.

já ouvi dizer mutias vezes que admirar alguém é bom, mas as pessoas dificilmente falam sobre como isso também é horrível. a diferença entre ‘admirar‘ e ‘idolatrar‘ e entre ‘admirar‘ e ‘se comparar‘ tem uma linha tão tênue que a gente trespassa e nem percebe que ela esteve ali algum dia.

a gente cria um ideal do que é perfeito na nossa cabeça e tenta chegar nesse patamar sem nem reconhecer tudo aquilo que a gente já fez. na nossa mente, a gente nunca vai ser ‘bom o suficiente‘ e eu já entendi, de uma vez por todas, que ela não é nem um pouco confiável. é hora de colocar a minha confiança na verdade sobre mim e não nessas ideias doidas que ficam zunindo de um lado para o outro, me fazendo perder a paz e esquecer de quem eu sou.

mas, sim, eu criei muitos ideais, e fiquei muito frustrada toda vez que não consegui alcançar um deles. verdade seja dita, eu também nunca tentei com muito afinco, e ignorei por completo todos os progressos que fiz ao longo do tempo. a gente tem um dom pra ler só o lado ruim das coisas, afinal.

o maior baque que eu tive na última semana foi perceber, principalmente, que esse ideal que eu tanto criei e cultivei não me incentivava. ele não me impulsionava e, muito menos, me deixava motivada. pelo contrário. ele me deixava frustrada, com aquela sensação de que eu estava sempre falando alguma coisa errada, e sem energia pra correr atrás daquilo que eu nunca ia alcançar.

até porque eu sempre tive muita certeza de que tudo o que eu sempre quis alcançar ia ser bom pra mim. eu nunca questionei que isso não seria assim. aliás, a gente tem certeza que questionar as cosias é algo ruim também, e não percebe que nisso pode estar a saída pra esse inferninho que a gente chama de ‘vida no mundo’. você deve ter percebido que não questionei os meus ideias.

e aí, não questionando, eu tentava chegar num patamar lá em cima, sem nem construir o primeiro degrau, quanto mais o segundo. ‘eu chego lá no pulo, eu consigo!‘, e quando eu não conseguia, eu chorava achando que tava errada de novo. e não era que eu estava errada, eu só estava vendo com olhos distorcidos, que não entendiam muito bem onde eu queria chegar. era o meu coração em conflito com a minha cabeça, o tempo todo, todo tempo.

talvez, a coisa mais gentil que a gente possa fazer por nós mesmos é reconhecer que esses ideais não são bom negócio. sabe? só aceitar que criar um ideal para cada coisa não ajuda, só atrapalha, e ver o mundo pelo o que é: uma questão não respondida. é ver as coisas que você quer fazer da mesma forma que você vê um projeto do trabalho: dividido em tarefas pequenininhas que, no fim das contas, dão um projeto gigante.

é olhar com carinho pra cada coisa que você faz, e jogar esse ideal pela janela. é não esperar que as coisas se solucionem sozinhas, mas buscar uma resposta onde realmente importa: no seu coração, no que você é de verdade, naquele lugarzinho de você que sabe de tudo porque vê tudo, e que, com certeza, sabe que o melhor pra você não é imaginar uma coisa que você não é.

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Escrito pelaMaki
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4 Comentários
  1. Clara Rocha  em janeiro 17, 2017

    “[…]
    eu também nunca tentei com muito afinco, e ignorei por completo todos os progressos que fiz ao longo do tempo. a gente tem um dom pra ler só o lado ruim das coisas, afinal.”

    Eu tenho muito disso, desejo tantas coisas mas não me esforço verdadeiramente, coisas bobas as vezes como “queria correr todos os dias de manhã” e de repente quando eu vejo estou dormindo as dez da manhã! HAHAHAH mas, esse ano aos poucos estou mudando isso
    e talvez, seja isso ai que você falou, de parar de idealizar e começar a agir, um degrau por vez.

    • Maki  em janeiro 19, 2017

      não é? a gente coloca ‘correr todos os dias de manhã’, mas podia começar com ‘correr um dia de manhã’. ir aos poucos mesmo, sabe? não se sacrificar atrás de uma coisa que não precisa de sacrifício.

  2. Juh Oliveira  em janeiro 16, 2017

    Obrigada por esse texto, Maki!
    Pra mim tem sido mto dificíl desistir dos ideais. Parace que dou voltas e não saio do lugar. A frustração me persegue e as ideias ficam só na minha cabeça, pq idealizo tdo e não realizo nada :/

    • Maki  em janeiro 19, 2017

      brigada você por esse comentário-desabafo! é normal isso. a questão é a gente começar pequeno, sabe? não tem problemas idealizar. só faz o contrário agora. foca nas pequenas coisas, começa pequeno, um passo por vez. não se deixa dominar por isso, não!