Outro dia alguém falou que eu sou uma pessoa carinhosa. Nunca tinha parado pra pensar nisso, na verdade, e na hora eu achei que ele tava louco. Como assim eu sou carinhosa? Eu me esquivo de todo mundo, o tempo todo, eu tenho medo de contato, eu prefiro sempre me manter a um braço de distância, just in case.
Como assim eu sou carinhosa?
Mas, sabe, tem um lugar de mim que sempre gostou mesmo de carinho. De fazer carinho nos outros. De abraçar. De fazer cafuné. De dar as mãos. De cuidar mesmo, entende? Mas eu também ouvi de muita gente que isso não era legal.
‘Não pode fazer isso com todo mundo’. ‘Não pode amar todo mundo’. ‘Não pode beijar todo mundo, nem abraçar todo mundo’. Não pode, não pode, não pode, não pode. Não. Pode. E aí de tanto ouvir eu entendi que não podia mesmo e achei melhor parar de tentar demonstrar carinho pra todo mundo o tempo inteiro e que talvez eu devesse mesmo ficar quieta no meu canto, dividindo um pouquinho de mim só com quem eu achava que merecia. Minha melhor amiga. Meu namorado. Minha mãe (às vezes). Minha avó. Meu irmão (às vezes, também, ele nunca gostou muito de carinho).
E eu fiquei guardando tudo isso dentro de mim. Todo esse carinho que eu queria dar pros outros, mas achei que não podia. E fiquei eu mesma sem carinho nenhum. Se eu não podia dar (carinho gente, calma) pros outros, então eu também não podia receber. Não merecia, sabe?
No fundo, é isso que a gente acaba acreditando. Que a gente não merece carinho. A gente fica podando essa vontade que tem de dar um pouquinho de amor pra todo mundo que a gente vê. A gente diz que não pode, que não é permitido, que não é legal, e é como se uma parte da gente morresse. Sem carinho, não existem muitos motivos pra gente ser feliz, né?
Daí a gente sai em busca de um monte de tralha pra tentar compensar essa falta de carinho, compra mil coisas, troca de iPhone todo ano, compra carro, casa, casa na praia, uma bicicleta, mas nada dá aquela mesma sensação do que um carinho sincero. E aí, quando alguém diz que a gente é carinhosa, a gente não acredita.
Mas eu sou. Eu sou carinhosa, sim. Eu amo dividir um pouco do meu amor com os outros. Mesmo com quem eu não conheço. Mesmo com o cobrador do ônibus. Mesmo com a faxineira do prédio. Mesmo com o barista do Starbucks. Por que eles não mereceriam também? Só porque não tem a mesma escolaridade que eu? O mesmo padrão de vida? Quem foi que disse que esse tipo de coisa define o quanto de amor uma pessoa merece?
Então, sim. eu sou carinhosa. Provavelmente vou dar carinho pra você também, se um dia a gente se encontrar pelas calçadas da Av. Paulista (muito provável). Pode não ser do jeito que você entende, que você conhece, mas saiba que eu sempre vou te encher de carinho. E quem sabe assim, você acha que vale a pena dividir carinho com os outros também.
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2 Comentários
quando vi o tema não consegui me segurar e tive que comentar, tenho que revelar também que sou carinhosa, não me imaginava e nem percebia isso.
a ideia que não podemos demonstrar carinho e que ao final chegamos a acreditar que não merecemos diz tanto sobre mim e minha formação, e cheguei a sofrer demais com isso, o não merecimento de receber o melhor do mundo é algo que me persegue desde sempre.
muito obrigada pelas suas palavras elas falaram tão profundo que me emocionaram e saiba que ficaram gravadas em meu coração.
Carla, que comentário mais fofinho! (e emocionante!)
E é isso! A gente acha que não pode dar carinho, receber carinho, mas é mentira! a gente pode fazer tudo isso! é só querer ♥