cotidiano

Todo mundo tem alguma parte do corpo que ‘não gosta’. O nariz, o quadril, o formato da boca… A minha parte sempre foi o cabelo.

Nunca tive muito cabelo, um cabelo ralinho, tipo de bebê mesmo, e isso sempre me incomodou. Mas não tanto quanto há uns dois anos, quando eu entrei mesmo no processo depressivo forte e perdi não só muito peso como muito, muito, cabelo.

O cabelo e eu

Meu cabelo ficou tão ralinho que era claro que tava faltando e eu, em busca de me sentir pior do que já me sentia, atraí situações em que ele virava um assunto.

Seu cabelo tá crescendo, né? ‘, ‘Nossa, caiu bastante!’, ‘Tenta o tratamento X, vai ajudar’, ‘Usa o produto Y, faz crescer rapidinho’. E eu fazia tudo isso, mas ainda assim, a meu ver, o meu cabelo continuava, ralo, feio, sem vida.

Não vou ser desonesta e dizer que superei toda essa crença de que o meu cabelo define quem eu sou. Isso não seria verdadeiro, muito menos amoroso. Por muito tempo, eu olhava no espelho e via uma aberração, uma pessoa feia, que nunca teria o cabelo das amigas, nem mesmo de longe.

Sempre que eu olhava uma foto minha, a primeira coisa que eu reparava era como estava o meu cabelo. ‘Horrível’ sempre foi a resposta. E eu sentia inveja, uma inveja absurda de todo mundo que tinha mais cabelo do que eu, e eu usava esse sentimento pra me sentir pior ainda em relação ao meu próprio cabelo, a minha imagem.

E assim foi.

Tomar banho era um tormento. Eu me machucava, sabe? Lavava o cabelo com raiva por ele ser desse jeito. Culpava a depressão. A genética da minha mãe. A calvície do meu pai. Culpava o estresse.

Eu terceirizava a culpa de uma coisa que era escolha minha. Eu me atacava – e ainda me ataco – no lugar onde mais coloco significado. Ou seja, no cabelo.

Você já parou pensar que você se ataca? Que toda vez que você pensa alguma coisa sobre você que não é verdade, você se machuca? Pode ser uma gastrite, uma rinite alérgica, você pode bater o braço na maçaneta da porta, pode cair da escada, pode desenvolver uma doença. Tudo isso é ataque.

Eu me ataco. Só de escrever isso me dá um frio na espinha, meu coração acelera, o estômago embrulha. Pensar que eu me machuco porque quero, porque tento ser uma coisa que eu não sou, é algo que me faz chorar do só de imaginar.

Quem eu sou de verdade tem cabelo? Tem nariz, orelha, braços? Tem corpo? Se eu aceitar esse corpo como parte de quem eu sou, então estou fadada a uma vida de ataques.

E eu cansei de me atacar. É cansativo. É exaustivo. É toda vez a mesma coisa. Toda vez eu olho no espelho com nojo de mim. Toda vez meu cabelo cai e eu entro em desespero. E aí ele cai de novo, porque, no fundo, eu acredito que eu mereço isso. Mas, sabe, eu cansei de me atacar mesmo. Cansei. Já chega.

Como diz minha roomie ‘Tá brega’.

É brega mesmo se atacar, continuar dando significado para uma coisa tão besta. Deixar essa coisa besta definir quem eu sou. Achar que eu sou qualquer outra coisa além do Amor. Eita, ataque bem elaborado, esse, que por vezes me faz mesmo esquecer sobre a minha essência.

Eu não sou o corpo. Eu sou livre. E toda vez que eu caio na cilada de acreditar que o cabelo sou eu, eu me ataco, eu me machuco e eu acho que sou vítima da desgraça que é o mundo.

Eu não quero mais me machucar. Quero ser leve e livre, como sou na realidade. Quero que você entenda, também, que você não precisa se machucar, que tá tudo bem. Você é perfeita, é linda, é amorosa. Você é o próprio Amor.

Você é apaixonada por si mesma? Eu não era. Eu me odiava. Como ainda me ataco, acho que ainda não sou totalmente apaixonada por mim. Mas eu estou aprendendo. E isso não tem nada a ver com aceitar o meu corpo como ele é foda-se o mundo. Não tem nada a ver com comodismo.

É entender que eu acredito que sou uma coisa que não sou de verdade. É uma mudança na mente. É aceitar que quem nós somos não muda, está intacto, imutável e perfeito por toda a eternidade.

Você se ataca? Pensa bem. Acho que é a hora de parar.

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Escrito pelaMaki
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20 Comentários
  1. Rebecca Bittencourt  em maio 19, 2017

    Maki, li esse texto com muita dificuldade pois tenho o mesmo problema que você.
    Fico feliz que você consiga lidar com isso pq eu, sinceramente, nunca consegui, apenas aprendi a ignorar.
    Mas é aquela história: não olho muito para o espelho porque, se olho, me dá uma tristeza imensa.
    Admiro que você tenha coragem de falar isso em público, eu nunca consegui, só com 1 ou 2 pessoas muito íntimas, pois é um assunto que me dói demais.
    Enfim, obrigada por essas palavras <3

    • Maki  em maio 19, 2017

      Rebecca, eu entendo a sua dificuldade… pra mim, ela também existiu, eu só decidi não dar mais atenção para essa vozinha horrível na minha cabeça. agora,se você puder (e se já não tiver feito isso antes), procure ajuda para cuidar disso. você merece olhar no espelho sem se sentir mal com você mesma ♥

  2. Kari  em julho 07, 2016

    Conheci seu blog há pouquíssimo tempo e, fuçando por aqui, encontrei esse post. Doeu. Doeu muito ler isso.
    Eu passo pelo mesmo problema; tenho alopecia genética e posso encher a boca para falar: é foda. Eu sei.
    Eu vivo numa montanha russa emocional e ela vem e vai toda por causa e direcionada ao cabelo. Se cai muito num dia, fico pra baixo. Se fico pra baixo, cai ainda mais. Olha.
    Você já pensou em usar alguma extensão (eu uso várias) ou até topper ou mesmo peruca mesmo. Muitaa gente diria que blablablá, precisamos nos aceitar, blablablá. Mas eu gosto de cabelo, sabe? A gente não compra um colar lindinho, um esmalte pra deixar as unhas do nosso gosto? Eu gosto de comprar cabelo e deixar a minha cabeça do meu gosto. Não sei, me sinto bem, mais confortável mesmo.
    Bom, só para dizer que já estou adicionando ao feed, porque foi uma das melhores coisas que li na semana. Obrigada por escrever esse texto. Em nome de todas as alopecianas 🙂
    Beijos!

    • Maki  em julho 10, 2016

      oi, Kari! que incrível esse seu comentário!
      olha, eu já pensei sobre colocar aplique, peruca, sei lá. mas, ao mesmo tempo, não acho que isso seja necessário. cada vez mais eu estou entendo que o meu cabelo é só um reflexo do que eu penso de mim mesma e, mudando isso, ele muda também. e é o que tem acontecido! não sei como vai o futuro, mas hoje já estou muito melhor em relação à esse assunto do que no passado.
      acho que o ideal é que gente sentir com o nosso coração o que é melhor pra gente, né? só assim a gente consegue ir em frente.
      e obrigada você por esse comentário tão fofo e maravilhoso! ♥

  3. Priih  em junho 02, 2016

    Conheci seu blog hoje, e acho que não poderia ter sido em momento melhor. Esse post caiu como uma luva.
    Sempre tive problemas com meu cabelo, mas só no fim da adolescência/início da vida adulta ele se tornou um incômodo real: comecei a alisar.
    me tornei escrava disso nos últimos 5 anos e agora estou tentando me libertar, às custas da minha auto-estima. ando super na bad por causa do meu cabelo e percebo que eu dou uma importância absurda pra ele.
    ainda não cheguei no seu nível de aceitação, mas espero de verdade conseguir. ♥ obrigada pelo texto.
    beijos,

    priscilla
    http://infinitasvidas.wordpress.com

    • Maki  em junho 03, 2016

      Priih, que incrível ver você aqui! Obrigada por comentar!
      E, ó, é tudo uma questão de você decidir: vale a pena deixar o seu cabelo afetar o que você pensa sobre você? Não, né? Chegar no ponto que eu cheguei foi um trampo e às vezes ainda rolam uma recaídas, mas o importante é saber que o meu cabelo não define quem eu sou. E isso vale pra você também. Acredite que você é muito mais do que um monte de fios na cabeça e tenha fé que, aos poucos, vocês fazem as pazes ♥

  4. B.  em abril 27, 2016

    Oi maki, acabei de conhecer o blog e por um dos ÚLTIMOS textos que você escreveu encontrei este aqui.
    queria simplesmente te agradecer, de coração, o seu texto foi muito importante pra mim, especialmente hoje.
    eu tenho 20 e poucos anos, estou passando por uma fase complicada financeiramente e por isso moro com meus pais. meu pai é muito rígido e sempre me chamou de “fraca”, vivo há anos ouvindo diante de qualquer erro (na concepção dele) que eu “só poderia fazer isso mesmo, você é muito fraca, não faz nada certo”
    os comentários dele me feriram e ferem demais ainda, hoje após ser chamada de fraca e cair no choro novamente eu reagi e disse que não queria mais que ele me tratasse daquela forma, que ele não entendia o que significava ser chamada de fraca uma vida inteira. acredito que não surtiu efeito nenhum, sinceramente. mas quer saber? ao ler teu texto eu pensei que simplesmente não importa o que ele pensa ou diz sobre mim, nem ele nem ninguém! o que importa é o que eu mesma penso sobre mim. e não, eu não sou fraca! eu sou é muito forte!

    • Maki  em abril 28, 2016

      Oi, B.
      Poxa, queria muito que você tivesse deixado o seu email de verdade no formulário, assim você poderia receber essa resposta. Mas tenho esperança de que você vai voltar aqui e ler esse comentário.
      Sabe, a gente acha que as pessoas têm poder sobre a gente. Que o que elas falam é verdade, porque ‘elas sabem mais’, ‘elas têm mais experiência’ e sei lá mais o quê. Mas isso não é verdade. Acredite que tudo o que seu pai falou pra você é o que ele pensa sobre ele mesmo. Com certeza, ele se sente assim e precisa tentar fazer outras pessoas se sentirem como ele, pra ver se ele fica pelo menos um pouquinho melhor.
      E você tem razão, você é muito forte. Você é capaz. Você é importante. Não duvide nunca disso. Não deixe que as palavras dos outros mudem pra pior o que você sente em relação à você mesma. Combinado?

      • B.  em abril 28, 2016

        OBRIGADA PELAS PALAVRAS E CONSELHOS, MAKI, ESTAVA PRECISANDO. quem sabe da gente é a gente mesmo. você está certa, ninguém tem o direito de nos fazer sentir mal a respeito de nós mesmas, nunca. você tornou meu dia melhor e mais bonito 🙂
        MUITA LUZ PRA GENTE SEGUIR EM FRENTE sempre.

        SOMOS capazes, SOMOS importantes!

        • Maki  em abril 29, 2016

          Oi, B!
          Que bom que te ajudou. Fico muito feliz ♥
          E é isso. Somo capazes e somos importantes! (muito!)

  5. camila  em janeiro 23, 2016

    você é linda 🙂

    • Maki  em janeiro 25, 2016

      Obrigada <3

  6. Juliana Reis  em janeiro 13, 2016

    Adorei! Fantástico!

    • Maki  em janeiro 13, 2016

      Obrigada, Juliana!

  7. Ketlin Cardoso  em janeiro 12, 2016

    Nossa que texto, adoro seu blog, gosto de vir aqui e ler, me identifico, eu realmente passei por situações muitos parecidas, vivia e em parte ainda vivo me sabotando. É complicado, acho que todo mundo passa por isso, ou de certa forma, esconde muito bem. Ou já aprendeu à se amar que não liga tanto para imperfeições, em partes eu aprendi, mas foi um aprendizado doloroso, e que demorou até acontecer, e é um processo ainda em constante evolução.
    Mais uma vez adorei o texto!

    • Maki  em janeiro 12, 2016

      Oi, Keitlin!
      Que bom que você gosta do blog, fico muito feliz em ler isso!
      Mas sabe o que eu aprendi? Que esse aprendizado não precisa mesmo ser doloroso. Aceitar o que somos é apenas parar tentar mudar algo que não tem como ser mudado. É entender que somos muito mais do que essa forma que a gente vê no espelho, sabe? Aí, não tem porque sofrer por conta disso! Mas a gente alcança isso aos poucos!
      Beijos!

  8. Silmara Araújo  em janeiro 11, 2016

    Maki, eu também já me ataquei muito, todos esses anos. Já passei anos sem usar chinelos (pq achava meus pés feios) e morria de vergonha da minha boca, que é grande, haha. Tempo atrás tava bem triste por conta do corpo pós-gravidez… Hoje me aceito. Parei de querer mudar algo que eu sou e aprendi a conviver com isso, sabe? Escrever no blog também me ajudou muuito, colocar pra fora aquele monte de coisa que a gente tá internalizando, hehe. Mas é isso, um passinho de cada vez e a gente chega lá! <3

    (que comentário enorme, né? ahahah)

    • Maki  em janeiro 12, 2016

      Silmara, você tem toda razão. Não dá pra mudar o que a gente é. E ficar pensando nisso o tempo todo não muda nada, só faz a gente se sentir mal com a gente mesma. O que mais vale é a gente entender que somos incríveis, independente do corpo. E escrever sobre isso dá um baaaiiita alívio!
      Beijos (e adoro comentários enormes! ahahah)

  9. caroline  em janeiro 11, 2016

    eu posso dizer que te entendo, também passei por uma coisa assim, me feria muito, por causa dos meus olhos, e sempre ficava triste quado as criancinhas me apontavam e diziam “olha MAMÃE, por que os olhos delas são tortos?’
    Sempre fiquei muito triste, ficava me sentindo inferior, por esse simples ‘defeito’ que eu tinha, mas a algum tempo eu passei a não ligar mais pra isso, sabe por que? por que eu sou linda, e VOCÊ também é Maki, somos fortes, não gosto muito de falar disso, na verdade não toco no assunto, mais achei que fosse preciso hoje, as vezes é bom ter alguém que nos entenda sabe? e eu lendo esse texto, senti que alguém me entendia. brigada! beijos!

    http://entrevereviver.blogspot.com.br/

    • Maki  em janeiro 12, 2016

      Oi, Carolina!
      Sua FOFA! Que comentário incrível, muito obrigada mesmo! E você tem razão, a gente não pode dar liga pra esse tipo de comentário, porque as únicas pessoas que ‘sofrem’ com ele somos nós mesmas.
      Obrigada mesmo!
      Beijos!