cotidiano

Eu sei, o tema é pesado. E confesso que até três meses atrás, eu não estava totalmente pronta para falar sobre ele assim, tão publicamente. Mas sabe o que me fez mudar de ideia? Uma conversa maravilhosa sobre a vida com uma pessoa inesperada (e incrível,diga-se de passagem).

Não sei dizer quando foi a primeira vez que eu pensei em acabar com a minha própria vida. Tem muito tempo, eu acho, mas no último ano, com certeza, foi que essa vontade apareceu muito mais forte do que em qualquer outro momento. Todos os dias eram uma verdadeira tortura para mim, acordar, levantar da cama, tomar café da manhã, ir trabalhar… Nada disso fazia o menor sentido, e, na minha cabeça, era fácil entender que a minha vida era assim tão ruim, porque eu não a merecia. Na minha cabeça, eu não merecia viver. 

suicídio

Até mesmo pensei em como eu faria isso. Minha primeira tentativa (que na época eu não sabia que seria apenas isso, uma tentativa), seria pular de algum lugar. E eu cheguei a ir até a Praça do Ciclista, na Av. Paulista, e olhei para os carros que passavam ali em baixo, no túnel, pensando que seria rápido, pelo menos, porque se a pancada no chão não fizesse o serviço completo, com certeza a velocidade dos carros seria o suficiente para que eu deixasse esse mundo vez.

Lembro até que cheguei a me debruçar sobre a grade, para ver se o vento que batia no rosto e a sensação de medo de cair me davam a coragem que eu precisava para pular. Claro que eu não finalizei o plano, já que um policial que estava do outro lado da rua me viu e pediu que eu, calmamente, me afastasse da grade. ‘Não vai resolver nada, moça‘, ele me disse.

Voltei para casa, aquele dia, com uma sensação de fracasso enorme. Eu era tão incapaz que nem mesmo conseguia me matar. Eu estava no meu pior momento e enquanto eu chorava deitada na cama, pensando em voltar no dia seguinte e terminar de vez o trabalho, eu tive um estalo. Eu precisava de ajuda.

Foi quando eu corri atrás de uma terapeuta e comecei o tratamento. Não vou mentir e dizer que pensamentos como esse não passaram pela minha cabeça desde então. Passei por outras situações muito ruins, alguns blackouts, outras tentativas falhas que, agora eu vejo, foram falhas por uma escolha minha. No fundo, eu não queria morrer. 

Claro que eu sou um caso à parte. Muitas pessoas não tem esse estalo. Muitas, infelizmente, são bem sucedidas nesse projeto. Mas, o que eu quero dizer com tudo isso é que o assunto não pode se tornar um tabu.

Para mim, entender que aquilo aconteceu foi a melhor coisa. Perceber o que eu estava sentindo, identificar o porquê de eu pensar diariamente sobre a minha própria morte, me fez entender muita coisa, aprender muito sobre mim. Conversar com alguém que me escutasse e não me julgasse, no fim, era tudo o que eu precisava para sair do fundo do poço.

Nós tratamos o suicídio como se fosse um tabu, uma coisa proibida em rodas de conversação, mesmo as mais íntimas. O suicídio é visto como pecado, como algo errado, mas ao mesmo tempo, as pessoas não dão atenção suficiente para reverter esse quadro.

Um relatório da OMS liberado em setembro do ano passado apontou que o Brasil é o 8º país do mundo com maior número de suicídios, e que 804 mil pessoas tiram a própria vida todos os anos. O relatório ainda diz que, a cada 40 segundos – isso mesmo, 40 SEGUNDOS – uma pessoa comete suicídio, mas só 28 países do mundo, dentro dos 193 oficiais reconhecidos pela ONU, têm algum planejamento de prevenção.

Com números como esse, é impossível, a meu ver, não falar sobre isso. Outros números alarmantes dizem que, no Brasil, em média 25 pessoas tiram a própria vida por dia  – aproximadamente uma pessoa por hora – e que a taxa de suicídio cresceu 30% entre os jovens de 15 a 29 anos.  É a TERCEIRA principal causa de morte no país, seguido por acidentes e homicídios.

Quando comecei meu tratamento e percebi o que eu tinha tentando fazer mais de uma vez, prometi a mim mesma que ia falar disso abertamente com quem precisava saber, principalmente com meus amigos mais próximos, a quem contei o episódio mais grave. Levei mais de um mês para falar com outra pessoa que não minha terapeuta sobre o assunto, mas sentir o apoio daqueles que me amam foi essencial para a minha recuperação.

Por isso também quis escrever este post. Todo mundo tem problemas, mas não é novidade que as pessoas lidam com as coisas de maneiras diferentes, nem que a depressão é um assunto sério e que precisa ser tratado como tal. De vez em quando, tudo o que uma pessoa precisa é alguém para ouvir o que ela tem a dizer e se sentir reconfortada por ter alguém com quem conversar.

Se esse for o seu caso, não se acanhe: pode me mandar um email, um comentário, um inbox. Eu estou aqui para ouvir o que você tem a dizer! Mas, se você quiser conversar com alguém mais profissional, tudo bem, não tem problema! Aqui no Brasil, o CVV (Centro de Valorização da Vida) está aí para ajudar, é só discar 141 ou mandar um email ou mensagem via Skype para eles (também tem um chat e atendimento presencial). Mas, mais importante do que isso, se você se acha capaz, não tenha medo de pedir ajuda. A quem quer que seja.

Se você está do outro lado, se percebe que alguém que você ama está agindo de forma diferente, parece deprimido, converse, de verdade. Escute o que a pessoa tem a dizer. Os sinais podem estar ali.

E, talvez, mais importante do que qualquer coisa, é lembrar que em um caso desses, ninguém tem culpa de nada. Os sinais podem passar despercebidos, o desespero pode ser grande demais e o triste fim, algo inevitável. Mas acreditem quando eu digo que sempre, SEMPRE, vai existir alguém pronto e disposto a te ajudar. Não tenha medo de procurar esse alguém!

Enfim, queria mesmo abrir esse tópico aqui não só porque escrever sobre esses assuntos tem sido muito bom para mim, como eu também acho – e espero – que possa abrir uma porta de diálogo para quem precise.

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Escrito pelaMaki
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16 Comentários
  1. Marina  em agosto 11, 2017

    Nós precisamos falar sobre o assunto sim! E que bom saber que você conseguiu sair desse estado e procurar ajuda. É difícil demais você parar e perceber que quer viver sim, só não quer viver com a dor! E pra procurar ajuda também é um sufoco, aquele sentimento de que estamos incomodando, que não estamos sofrendo o “suficiente”.

    Eu tenho escrito sobre esse tipo de coisa no meu blog (não suicídio, mas os pensamentos depressivos, as comparações, cobranças…), com um tom mais bem humorado (um conselho de um amigo que queria que eu tentasse usar do humor pra aliviar a dor) e isso tem me deixado melhor. Ando lendo bastante blogs como o seu, que falam do assunto sem julgamentos, sem botar juízo de valor e sem aquele tom de “não fique assim, a vida é maravilhosa e seja grato pelo que tem” que só me deixavam ainda mais culpada. Encarar as coisas de frente anda me deixando melhor do que tentar tapar o sol com a peneira fingindo que a vida não é dificil

  2. mel  em julho 14, 2017

    foi muito bom ver um post do tipo, pq ninguém quer falar sobre isso, já tentei suicídio uma vez e vejo que mesmo com minha família (que mora comigo) existe um bloqueio sobre o assunto, mesmo logo após o ocorrido, parecia que esse tema estava fora. Enfim, foi muito bom mesmo ver alguém falando sobre e falando tão bem

    • Maki  em julho 16, 2017

      é, verdade, Mel. as pessoas precisam parar de ter medo de falar isso. força pra você ♥

  3. Michelli Buzogany Eboli  em abril 18, 2017

    Algumas vezes pensei nisso também. Já me peguei olhando pra baixo e pensando na queda, em como seria uma outra maneira com menos necessidade de risco, algo que ninguém tivesse que se chocar ao ver… sei la. Mas logo volto e penso como estar viva é bom. Estalos na mente.
    O dia que falei com alguém sobre isso foi muito estranho. As pessoas ficam muito nervosas e eu também ico. Por isso não falo muito. Como alguém que tem síndrome do pânico, medo de morte, pensa em se matar? As vezes isso roda na minha cabeça, mas é como se isso fosse um jeito de fugir de tudo que sinto.

    Tô em tratamento, depois de muitas complicações. Ele não tá direito ainda, planos de saúde não ligam pra nossa saúde mental, mas eu tô ai, firme como um bambu. Foi bom ler seu texto. obrigada.

    • Maki  em abril 18, 2017

      Michelli, se um dia você quiser falar sobre isso, me chama! te garanto que não vou ficar nervosa. falar sobre foi o que me salvou, na real. e me trouxe pra onde eu tô hoje. você nunca tá sozinha, sabe? não esquece. e você é muito mais forte do que imagina!

  4. […] despida de toda e qualquer pose e imagem, vestiu-se de muita coragem e amor para assumir, em um post no seu blog, que pensou em se matar mais de uma vez e precisou procurar ajuda. Hoje, melhor, ela […]

  5. Camila  em junho 06, 2015

    Obrigada por compartilhar sua experiência e abordar o tema. é muito difícil encontrar quem o faça – ainda que tantos sofram com a depressão. Eu, que me entendo como a pessoa mais solitária do mundo, me identifico.

    Tenho receio de tocar nesse assunto com os pouquíssimos amigos que me restaram. Sou uma pessoa pessimista, por isso tento ao máximo não trazer assuntos negativos às rodas de conversa… O que acarreta numa imensidão de sentimentos ruins presos dentro de mim.

    Às vezes tenho a impressão de que vou implodir e desaparecer.

    Quando eu puder, iniciarei uma terapia. Por agora, só posso me desejar boa sorte.

    Fica bem! Vou tentar ficar bem também.

    <3

    • Maki  em junho 07, 2015

      Oi, Camilla!
      Entendo o seu receio em comentar sobre o assunto com qualquer pessoa. Mas entenda que, para melhorar, basta você ter a coragem de falar com alguém sobre isso e, veja só, isso você já teve! Se não, não teria comentado aqui! Você vai melhorar, tenha fé, e acredite: você não está sozinha MESMO. Tem alguém que com certeza vai te ajudar, basta você dar o primeiro passo (e você já deu!). Continue forte, tudo vai dar certo!

  6. CamilA  em junho 06, 2015

    oBRIGADA POR COMPARTILHAR SUA EXPERIÊNCIA E ABORDAR ESSE TEMA. PARA MIM, QUE ME ENTENDENDO COMO A PESSOA MAIS SOLITÁRIA DO MUNDO, É MUITO

    • Maki  em junho 07, 2015

      Oi, Camila! Imagina, obrigada você por comentar! E entenda: você NUNCA está sozinha. Tenho certeza que existem pessoas dispostas a te ajudar com isso a todo momento! Não perca a fé!

  7. Joana Teixeira  em maio 31, 2015

    Não posso deixar de comentar. Obrigado pela sua coragem, esse assunto é tabu e faz com que quem pensa em suicidio se sinta culpado. Eu nunca tentei mas já pensei nisso, nao sei se é bem pensar ou se é sintoma de ataque de panico mas é muito dificil. Obrigado e sorte para voce 🙂

    • Maki  em maio 31, 2015

      Oi, Joana! Que bom ver o seu comentário por aqui! Obrigada! Se você já pensou nisso, talvez seja interessante procurar ajuda. Não tenha medo, esse tipo de pensamento é comum, mas existe uma linha entre pensar e tentar, e o melhor é sempre evitar ultrapassá-la! Beijos e boa sorte!

  8. Anne  em maio 08, 2015

    Amei o post, me identifiquei com ele e já estou aqui aos prantos. Me segurei para não mandar o e-mail, sempre tem aquele sentimento de não querer incomodar as pessoas e ao mesmo tempo o desespero de necessitar de alguém que ao menos te escute…. Também tentei me suicidar, fiz um pouco de terapia, tentei também ligar para esse cvv… Procurei amigos, mas a realidade é a solidão.

    • Maki  em maio 08, 2015

      Anne, acredite quando eu digo: você não está sozinha. Não está. Nunca. Tenha certeza que sempre vai existir alguém pronto para ouvir o que você tem a dizer, para te ajudar a superar um momento difícil. Basta você encontrar em si a coragem para dizer ‘me ajuda’. E você tem essa coragem, você é capaz. A terapia é muito importante nesse momento e pode ser essencial para a sua recuperação. Mas entenda que você não está sozinha. E que você nunca atrapalha.

  9. Carol porne  em maio 08, 2015

    parabéns pela coragem, amiga. já tinha motivos de sobra para te admirar, agora ganhei mais um. suas palavras tem força e com certeza ajudaram muitas pessoas além de você mesma.

    • Maki  em maio 08, 2015

      Cá, amiga linda… Muito obrigada pelo seu comentário! Fiquei muito feliz em ver você por aqui!